domingo, 3 de outubro de 2010

140 caracteres

Quanto mede a sua existencia, sua opinião, desejo, arte, atitude, expressão? O que é você? Qual seu espaço e tempo no mundo? 140 caracteres.

sábado, 2 de outubro de 2010

Véspera de Eleição

Papai, p q vc vai votar em B /Pq A é ladrão e mente sobre B /mente o q /Diz q B é ladrão /Papai o q isso tem a ver /Meu filho, vá brincar.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Carreira Literária

Escrever é a atividade que me preenche, o ato que me faz sentir completo e com algum sentido de existência. Por isso a oportunidade de publicar um poema teve para mim um significado maior do que a emoção de tirar a carteira de motorista, viajar de avião pela primeira vez ou entrar na faculdade. Embora esse meu texto tenha saído em uma publicação coletiva, ao lado outros poemas, contos e crônicas de diversos autores também iniciantes em uma antologia que tinha como tema a cidade de São Paulo, a aprovação desse texto representou o primeiro reconhecimento por algo que havia produzido.
Enviei via email o convite de lançamento do livro para todos da minha lista de contato. Ninguém apareceu. Eu mesmo quase não cheguei a tempo de ouvir meu poema ser recitado, porque minha noiva achou inconveniente irmos muitos cedo por conta do nosso filho, na época um recém-nascido. No caminho, encontrei no trânsito de São Paulo um dos amigos que havia convidado, antigo companheiro de escrita. Buzinei e ele me viu, antes do farol abrir e nos obrigar a seguir a frente com o fluxo. Ligou no meu celular e perguntou onde eu estava indo. Havia se esquecido do convite.
Segundo o contrato realizado com a editora, eu me comprometia a vender dez livros no período de um mês com a finalidade de custear a publicação. Paguei adiantado com o meu salário de estagiário e comecei a oferecer a amigos e parentes. Minha mãe, meu irmão e uma tia compraram. Uma amiga, quando soube, fez questão de comprar. Alguns amigos me deram parabéns. Um comprou, mas não leu. Outro comprou e leu, mas no encontro seguinte confessou que não se lembrava do que o texto tratava. Um antes de comprar afirmou que conseguiria um preço menor em outra fonte. Um pediu emprestado para ler e uma tia comprou fiado e não pagou.
Todo começo é um pouco difícil. Na próxima vez seria mais fácil. Quando houve uma nova seleção para uma antologia exclusiva de poesia, enviei um novo texto, já decidido a custear os exemplares com o meu próprio salário – ainda baixo, mas agora já era efetivado – e oferecer os livros de presente para aqueles que se interessassem.
O novo poema não foi aprovado na seleção e assim encerrei minha carreira literária.

terça-feira, 2 de março de 2010

Cena Avulsa

Mesa de bar, três copos, duas garrafas de cerveja, um prato de porção no centro, um livro com um par óculos em cima. Tom casual

A – ...Agora de cabeça eu não lembro o nome, mas o cara é muito bom.
B – Eu já ouvi falar dele, mas também esqueci como chama.
C – É alguma coisa de Oliveira.
B – Diogo de Oliveira! Não, não é...Diego...começa com D...
C – Acho que começa com R, Rodolfo...
A – Enfim, ele é muito engraçado, tem umas tiradas muito boas.
B – Antes ele fazia aquelas comédias stand up, não?
A – Isso! E manja muito de improviso. Tem horas que nem os outros atores agüentam e caem na risada com os absurdos que fala.
C – Uma hora os atores como que param a peça porque esse alguma coisa Oliveira fala muito palavrão, e resolvem fazer aquela censura com o apito...
A – Só que o apito sai fora de sincronia...
C – A frase fica: Filho da piiiiiiiii PUTA!...você devia ir assistir!
B – Talvez eu vá qualquer dia desses.
A – E o que faz o papel do prefeito e que fala tudo errado?
C – O cara solta uns Dar-vos-te-ei.
B – Como ele teria que falar, se fosse a sério?
C – Dar-vos-ei.
A – Nada...Dar-te-ei, porque ele tava falando para uma pessoa só, que era o Oliveira.
C – Ah, sei lá como é o certo, só sei que ele falou errado. Voltando ao prefeito, no dia em que fui assisitir ele escorregou na hora de subir no palanque e por pouco não caiu de cara. A platéia caiu na gargalhada, mas então ele levantou com uma cara tão sem graça que todo mundo aplaudiu.
A – Então é cena ensaiada, porque ontem aconteceu a mesma coisa. Por falar em ontem, porque você não foi?
C – Tava tudo certo de ir assistir de novo, só que uns parentes da minha mulher foram almoçar em casa e não queriam mais saber de ir embora. A gente não sabia mais o que fazer, só faltou eu colocar o pijama para ver se eles se tocavam!
A – Vamos dormir que a visita quer ir embora...
C – Teve uma hora que eu liguei a tv para acabar com a conversa, mas a mulher disse que adorava o programa!
A – Você tinha que ter colocado a vassoura atrás da porta.
C – Com eles acho que nem se colocasse vassoura, rodo e pá junto!
B – Tem uma coisa que não falha nessas horas: filosofia.
A – Quê?
B – É verdade. Não tem nada melhor para espantar visita e encerrar assunto.
C – Quer dizer que eu tinha que ter começado a filosofar?
B – Não. O melhor é falar sobre história da filosofia. Sei lá, Platão, por exemplo.
A – O difícil é puxar assunto de filosofia do nada.
B – Não, na verdade é bem fácil. Em qualquer assunto dá pra puxar algo para falar do mundo das idéias, ou do mito da caverna. A maioria já se despede nessa hora.
C – O lance então é deixar o assunto chato?
B – A questão não é ser chato. É que quando a gente começa a falar de filosofia a pessoa, mesmo que não queira, começa a pensar na vida, na condição humana, na realidade, essas coisas, e como ela é pega de surpresa, acaba sendo bem desagradável.
A – Isso é verdade...
B – E se questões como ética não derem resultado, é só atacar de Nietzche e questionar o livre arbítrio ou a efemeridade do sujeito. Garanto que 99% se manda correndo.
C – Com certeza...
B – Um pouco de neurolinguística também ajuda. Começar as frases com negativas, por exemplo, deixa de uma forma sutil o diálogo menos amistoso. Vocês precisam tentar, e vão ver como funciona.
A – Vou tentar da próxima vez. Que horas são?
B – Cedo.
A – Cedo nada. Tenho que fazer um monte de coisa ainda.
C – Acho que vou também. Alguém quer carona?
A – Eu aceito.
B – Eu vou terminar a cerveja. Pode deixar que eu fecho a conta e depois a gente acerta.
A – Combinado.
C – Tchau.
B – Tchau.

Mesa de bar, três copos pela metade, duas garrafas de cerveja, um prato de petisco no centro. Enche o copo, coloca os óculos, abre o livro A República. (Blackout)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ao Meu Filho

Já te amo muito, antes de te conhecer. E esse poema, filho, é como uma benção, pois esses versos estão embebidos todos no amor que sinto por você (Escrito em 11 de janeiro de 2010).



A vida chegou como um jorro
Violento,despótico, traumático
Invadiu sem licença, sem deixar opção...
Mas cada gota dessa vida em que se afoga
É mágica, é divina, é dádiva
Que por nada a você foi dada,
E também a troco de nada
Por você será retribuída

Desejo-lhe que a tenha plena
Com seus sabores e também suas feridas
Que ame e anseie, que sofra e sorria.
Mas, por favor, sem pressa.
Cuidado com as ciladas
Que tornam a alma cativa
Não se preocupe tão cedo
Com o que fazer da vida
Com o que ser quando crescer
Para que time torcer, que música gostar
Duvide dos heróis dos programas de TV
E mais ainda do que dizem os intervalos comerciais
Você não tem que ser grande
Nem tem que ser rico,
Não tem que ser famoso
Ou ter super poderes
Você tem que ser apenas o que você quiser
E só posso torcer para que seja feliz.

Quando as pessoas lhe dizem “O futuro está em suas mãos”
Na verdade querem dizer “Ele escapou das minhas”.
O futuro é um fardo passado de uma geração para a outra
Enquanto os mesmos erros são cometidos geração após geração.
O futuro não está em suas mãos
O futuro não está nas mãos de ninguém
O futuro não está.
Você só tem o presente
Tem apenas esse instante
É agora que você precisa fazer a escolha certa.

Sobre os valores nos quais acreditar, o que posso dizer é que:
Seu bisavô acreditava em Deus, e virou pastor.
Seu avô acreditava em política, e virou comunista.
Seu pai acredita na poesia, e até hoje tenta ser poeta.
O medo que seu bisavô tinha da política
Não impediu que seu avô fosse politizado
O fracasso do seu avô na poesia
Não impediu que seu pai insistisse em ser poeta.
A fé que seu bisavô tinha em Deus
Não impediu que seu avô saísse da igreja.
Os conflitos que seu avô tinha com Deus
Não impediu que seu pai ainda acredite nele.

O que quero dizer com essa genealogia absurda
É que sei que você vai lutar por aquilo em que acreditar,
Mesmo que seu pai não concorde
Mesmo que a causa pareça impossível
Porque além do caráter, é esse o seu legado,
Sua herança de família.