sábado, 6 de agosto de 2011

Recados a Mario Neto (nº 4)

Quando você se vê em um congestionamento terrível, daqueles que não fluem nem quando o semáforo abre, você sente uma ansiedade enorme e também uma curiosidade: O que aconteceu? Qual terá sido a desgraça? E não adianta negar, Mário Neto, o que você sente não é uma mera curiosidade, é um desejo auto-censurado. Você quer que tenha acontecido algo. E é por isso que, ao contrário do que diz nas conversas, quando há de fato um acidente e chega a sua vez de passar pelo local, você reduz sim a velocidade para ver melhor a cena. marcas de pneus? cacos de vidro? ferragens retorcidas? quem sabe até um corpo ainda não recolhido?
Mas não se culpe, Mário Neto, não se sinta um sádico que vê na desgraça alheia a recompensa pelo tempo perdido no trânsito. As suas razões são mais profundas, embora não menos bizarras.
Você deseja a tragédia porque ela tranquiliza, traz uma justificativa e torna a situação mais suportável, por ser excepcional.
Quando não há a tragédia e a rádio explica que a causa é o excesso de veículos, então você é obrigado a se deparar com o caos social em que está inserido, e como o tráfego não flui, você chega a pensar até na responsabilidade que tem nisso tudo.