sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Invocação

Venha por favor
Invada minha casa
Permita-me mudar
A mim mesmo e ao mundo
Permita-me encontrar
A verdadeira poesia
Venha e me erga
Dê-me inspiração
Venha e me dê força,
Também paz, me dê amor.
Traga a coragem
Mostre-me a beleza
E o que mais precise
Dê-me a rima certa.

domingo, 20 de setembro de 2009

Redações

Remexendo meus fichários antigos, achei essas redações feitas no 2o ano do colegial, para a matéria de psicologia. Achei interessante rever esses textos e resolvi postar, sem mudar ou corrigir absolutamente nada. Abaixo de cada texto o respectivo comentário da professora Josi após a correção e minha réplica , feita no momento dessa postagem.

Tema: Quem sou eu?

Sou humano, ou pelo menos foi o que me disseram. Sou um ser que vive a base de valores abstratos como honra, dignidade, honestidade, etc, mas que no fim, como todos da minha espécie, acabo lutando por outras entidades que nada têm a ver com as primeiras, por exemplo dinheiro, status, poder.
Sou uma pessoa que em meio a massa procura manter sua individualidade, procura ser alguém.
Não sou ninguém.
Sou um número. Sou parte de alguma estatística. Parte numa lista de chamada. Sou uma carteira de identidade, uma carteira profissional, um C.P.F, um título de eleitor.
Sou um cidadão.
Sou um adolescente, desempregado, vivendo em conflitos, sou um poeta, uma criança. Alguém que está aprendendo. Aprendendo a viver, aprendendo história e geografia, aprendendo a amar e a resolver inequações trigonométricas. Aprendendo a jogar o jogo da vida.
Não sei se sou ou apenas estou insatisfeito.
Em meus sonhos, sou herói, sou forte, roqueiro. Sou bandido, tenho asas. Em meus sonhos vejo o mundo do meu jeito, e pra mim este seria o mundo perfeito. Mas sou apenas um, e o mundo é composto por milhões. Talvez até fosse bom que todos pensassem como eu, mas não sei se suportaria bilhões com defeitos iguais aos meus. Sou um sonhador, que procura nos sonhos e nas fantasias a força que precisa para enfrentar a realidade.
Sou Feliz.
Sou tudo isso, e muitas outras coisas que agora não lembro. Sou tudo que passei e aprendi durante minha vida. Sou filho, de Deus e dos meus pais, sou irmão, sou amigo, sou vizinho. Sou visto e, bem ou mal quisto, sou apenas eu, Danilo Corrêa de Oliveira.

comentário da professora: Legal, fique atento com erros e concordância!

réplica: Ainda não entendi se era para ficar atento com os erros e concordância do texto ou da vida!



Tema: Juventude em tempos de Globalização, onde você está?

Estou em meio à massa, tentando me adaptar a todas essas mudanças. Dia a dia, hora a hora, novas notícias nos informam sobre a política, a economia e a ciência do mundo todo, e o que fazemos é tentar assimilar o máximo possível de informações e nos mantermos atualizados diante da correria que é a vida moderna.
Mas tudo é muito relativo. Muitas pessoas que “navegam” o mundo inteiro através da internet, nem sequer abrem as janelas de suas casas para ver a realidade que as cercam; ficam preocupadíssimos com a desestabilização da economia no México, mas não dão a mínima para a miséria das pessoas de sua própria cidade nem tampouco para as sucessivas queimadas que acabam com toda a nossa flora. Já inventaram o pentiun III, mas ainda não descobriram a cura da AIDS. É triste isso, o homem querer inventar um novo mundo esquecendo aquele que recebeu de graça, e que é o que o faz viver.
E eu continuo em meio a massa, tendo a esperança de que, com tantas informações que recebemos diariamente, possamos tomar uma consciência mais madura, para assim utilizar a globalização de fato para nossa evolução, e não nossa auto-destruição.

comentário da professora: Estava indo muito bem, poderia ter desenvolvido mais!

réplica: Mea culpa!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Pauta

O Caso do Assassinato de Isabella Nardoni
O Caso Isabella Nardoni
O Caso Isabella
Isabella
bella
ella
la
a
acaso
ocaso
o caso
O caso do assassinato da menina Eloá...

Os gols da rodada após os comerciais.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ficção

uma de minhas poesias favoritas.


Tudo começou com o big-bang, que foi um bang bem grande / Do nada, o nada explode, vira massa, e o universo se expande / Isso é uma complicação: condensação, rotação, translação... / Nasceu Adão/ Mas já nasceu com depressão/ Foi preciso que seu pai lhe arrancasse uma costela / E dela fizesse a donzela pra alegrar seu coração / Ele não se fez de rogado quando se sentiu amado / Cometeu até pecado / Parecia um dinossauro / Um triceratopterodatiranorex Sapiens / Mas depois de muitos anos os climas se alteraram / Os vulcões se acalmaram / As terras se separaram / E a filharada que vivia espalhada não soube voltar pra casa / Então fincaram raízes / Aprenderam, ensinaram, procriaram, povoaram aquelas terras que chamavam de países / Tinham até hinos nacionais / Mas essa espécie, mesmo tão inteligente, se esqueceu que o importante dessa vida é amar / Se preocupavam tanto em fazer o fogo / lascar pedra, fazer roda e telefone celular / Já não sabiam mais se vinham dos macacos, dinossauro, Adão e Eva, da poeira ou do mar / Assim eles perderam a identidade, desistiram da verdade e começaram a inventar / Inventaram a escrita / O sistema decimal / Inventaram a Política / O tal do capital / Inventaram a mentira / Inventaram até verdade / inventaram a hierarquia / A chamada sociedade / Inventaram o teatro / Música dodecafônica / Inventaram a guerra / E também a bomba atômica / Aí o passo desandou / O barranco deslizou / Todo caldo entornou / Atlântida afundou / O paraíso acabou / Caim matou Abel / Houve a Torre de Babel / Um foguete foi pro céu / Nero fez um fogaréu / O Homem ficou pinéu / Querendo conquistar / Por isso Roma, Napoleão Bonaparte / Idade Média, o cinquecento / Sun Tzu, Maquiavel / Czar Stalin, que se fazia vermelho, mas matou muitos parceiros para poder se firmar / Aquele austríaco de Áries e bigode, que se matou de remorso por ter matado um judeu / E os europeus / Que de barco destruíram, dizimaram e descobriram o que eles já conheciam / Inclusive um tal Brasil / Que na época não tinha esse nome, mas já tinha muito homem vivendo na Mãe Gentil / E esse gentio viu sua mãe ser estuprada / Bem como suas esposas, durante a invasão / Viu sua história, seus costumes, suas crenças, se perderem em meio ao sangue / E as árvores no chão / Ainda hoje alguns deles são queimados por jovens aristocratas do distrito federal / É uma forma dos futuros governantes, representantes de toda a população nacional / Se lembrarem dos famosos Jesuítas e também dos bandeirantes que fizeram quase igual / Catequizaram, exploraram, aprisionaram, obrigaram aquele povo a aceitar um tal de Deus / Que não gostava de quem era antropófago, nudista, preguiçoso, bronzeado ou fariseu / Mas sucedeu que o povo não acreditou nem tampouco se entregou, preferiram até morrer / E eles morreram / Mas depois os “Cara Pálida” que odiavam trabalho não souberam o que fazer / Resolveram então aderir à moda / Pega preto, encaixota, põe num navio pra trazer / - “Vê se sossega, porque preto é bicho manso / Pode até morrer de banzo, mas não vai te aborrecer” / Então dessa mistura harmoniosa, a gloriosa identidade brasileira foi nascer / A identidade que se orgulha do tal samba / Da feijoada e da cachaça / Coisa boa pra inglês ver / Dança, e canta, olha a bunda da mulata / Sem saber que a coitada não tem nem o que comer / E também não sabe ler / Mas mesmo assim, subnutrida, analfabeta, a mulata se balança no meio da multidão / E a multidão, quando lê “ordem e progresso”, em meio ao verde amarelo, se lembra da seleção / De quatro em quatro anos tem Copa do Mundo / Mundo que está no universo / Universo em expansão.

Cantiga de Natal

Natal natalis é nascer
Celebra-se a vida
Célebres histórias
Cristo, pai, mãe, magos reis
Ouro, incenso e mirra têm
Perto da manjedoura
Há vários animais.
Martinho em casa o galho quis
Enfeitar como a neve o fez
Hoje há algodão
Lâmpadas a brilhar
Nicolau turco generoso
Polo Lapônia e trenó
Laços Bengalas Meias
Renas e chaminés.

Natal completo é te ver
Nasce o natal em mim
Só junto de você
Deus é grande, mas se vou
Longe sinto dentro um frio
Mesmo se tem presente
Mesmo se tem perú.
No lar Deus fica quentinho
Nascemos um pouco ali
Quero te abraçar
De tanto ser feliz
Tanta história se mistura
César Pedro vai e vem
Mitra, inverno, sol.
Papa Júlio diz amém

Natal de fato é lembrar
Que o amor vai nascer
E a paixão chegar!

Cartà Magrela

primeira poesia que fala de amor...

Olho as linhas do papel.
Dentro sou todo turbilhão
de pensamentos, sentimentos
e palavras.
O que dizer?
Como explicar a transformação?
Você me transformou!
Como quem não quer nada,
Como criança levada,
levou embora o meu chão.

Mas eu não caí.
Aprendi a voar.
E também que amar não é se prender,
é se unir;
não é perder e se perder,
é entregar e se achar.
E aprendi a falar de amor.
Entendi porque nenhum poeta resiste ao tema.
E porque nunca tinha entrado nele.
O amor é impossível de ser calado,
Mas apenas se for sentido.
E sentido por mim ele é.
E mais sentido não é preciso ter,
sejam quais forem suas conotações,
pois nesse momento me vejo junto à você.
Por enquanto é só imaginação.
Mas de qualquer forma é uma imagem
e, como diz o chavão,
uma imagem vale mais do que vil palavra.
Cada vez escrevo menos
Porque já escreveram tanto
Tantas frases belas que ainda são ouvidas,
citadas, ecoadas, deturpadas
E continuam a escrever ainda
de modo tão frenético
sobre todo e qualquer assunto
Abarrotam de períodos as estantes
E mais Kbites são salvos no HD
Vestem de gala as palavras pras vitrines
Para adiar a fatal morte dos catálogos
A verborragia é tão caldal
Que é impossível não ser banal,
Não cometer uma rima fácil,
plagiar, ser redundante.
Por isso calo minhas linhas
Pois para mim são caras
E não as quero mendigas dessa megalópole literária.
Permanecerão platônicas:
A idéia de um poema.
Não por isso mais nobre,
mas desprovida do peso de qualquer matéria.

Compulsão

Acordo decidido a ser forte
Durante a madrugada prometi a mim mesmo
Uma prece pra selar a promessa.
Ergo-me intrépido
Olho o espelho e tolero o que odeio ser
Pois não serei assim amanhã
Não mais
Vou vencer a tentação

Eu o vejo
Lá está o objeto da minha compulsão.
Sempre assim, sempre a me testar.
Eu sei o que devo e o que não devo
Aquilo é um chamariz
Eu sou o ser racional.
E racionalizo o tempo todo
Enumero os malefícios que ele me faz
E continuo o encarando como um inimigo
Mesmo quando emana uma áurea de luz que lhe encobre
Amaldiçôo aquilo mesmo enquanto me movo em sua direção
E praguejo contra ele até quando minhas costas se rasgam
E brotam das minhas entranhas duas asas pardas e triangulares
Ele envolto em luz
Eu me aproximo com minhas asas
E o encaro, o amaldiçôo e praguejo
Ele brilha e eu o beijo
E alado me queimo
Caio no engodo
Traidor de mim mesmo
Deliciando-me a custa de minha dupla desgraça
Depois do gozo do fraco virá a culpa
Eu enforcado na figueira
Eu pregado na cruz
Beijei meu próprio umbigo para receber as trinta moedas
E derrotado me deito, a espera de outra madrugada.

Antes do Segundo

outra poesia feita a bordo...

Estava deitado,
O ambiente quase escuro
Uma fraca luz azul.
A garganta contraída
Daquela maneira a que denominam “nó”.
Era um momento de reflexão,
De pesar prós e contras,
Onde minha tendência trágico-neurótica
Revestia de chumbo qualquer aspecto negativo
Como carência, solidão, culpa, pressão, etc,
Fazendo o prato da tristeza baixar convicto
E eu me sentir tão abstrato quanto esses substantivos.

Como de costume, brotou,
Desse nirvana às avessas,
O medo, arquiinimigo do ego.
Retorceu forte meu estômago,
Gelou meus pulmões,
Subiu borbulhando pelas vias aéreas
Produzindo catarro, saliva
E lágrimas.
Sem dúvida estava triste,
Mas o que me fazia chorar era o medo.
De não saber porque estava triste,
Não saber do que tinha medo.
Chorava como a criança que mantém o pranto
Mesmo após esquecer o que causou a dor.
Queria me chorar inteiro:
Minhas mágoas e fraquezas,
Meus traumas e complexos,
Meus erros e defeitos.
Queria chorar o mundo
Com todas as suas injustiças.
Mas nesse momento
Todos os relógios do injusto mundo
Avançaram um segundo
E soou a campainha do despertador.
Então não tive outro remédio
Senão levantar-me,
Secar o rosto,
Vestir meu sorriso
E sair.

Ler Uma Poesia

Ler uma poesia
É embrenhar-se numa alma

Acaso queira dar-se ao trabalho
De seguir esses versos
Verá o caos que existe em mim.
Portanto pare,
Não leia.
Antes reflita o real valor de invadir um espírito.

Sempre haverá o belo
Mas nem sempre o belo é bonito de se ver.
A escultura do poeta tem como modelo
A própria existência humana
E a humana incapacidade de explica-la

Ler um verso é fútil,
Escreve-lo é vil.

É teimar em acordar a angústia que a civilização,
Que as instituições, a tanto custo
Tentam acalentar.

Por que ir além
E perder de forma vã o sono?
Esqueça o belo!
Contente-se com o sensual,
O saboroso,
O cheiroso, o táctil.

Ganhar dinheiro e cumprir horários.
Muito mais fácil que questionar
O que é valor,
O que é tempo.

O conselho está dado
A liberdade é sua.

Entretanto
Se insistir na leitura
Apesar das advertências
Não posso lhe parabenizar
Dizer que foi uma boa escolha
Um ato nobre

Posso apenas erguer minha taça
Que transborda inutilidade
E oferecer-lhe um brinde mudo
Porque aqui se poupam palavras
Para que beba a vontade de minha alma
Corriqueira e sem requinte
A alma de um filho bastardo da vida
Um seu irmão.

O Livre Arbítrio

Eu me salvo e me perco,
me glorifico e me dano.
Responsável por mim mesmo,
Cada ação que tomo repercute imediatamente em mim.
Sorte e revés decorrem de minha ação ou inércia,
E mesmo sem ciência do melhor momento para agir ou esperar,
Tendo sempre de usar minha fraca intuição como norte,
Não posso abster-me da tutela que possuo da minha vida.

* * *

Sou responsável por mim
Mas não escolhi ser quem sou.
Quando tomei as rédeas da consciência
Eu já era alguém
Tinha um esboço de destino traçado pelo ADN
Genótipo e fenótipo
Imunidades e propensões
Antes de saber, eu já existia.
E sem conhecer-me ou conhecer a vida
Devo guiar-me através da névoa do tempo
Sem saber se sigo o único caminho possível
Ou se transito por milhares deles
Que conduzem, todos, sempre ao mesmo fim.

Olhares

Diferentes olhares
Com dizeres mil
De um ou outro modo
Todos incomodam
Todos me afetam
Ser observado é ser consumido
Invadido, interpretado e julgado
É estar à mercê do próximo
Ser ignorado é inexistir
É carência, solidão.

Queremos ser vistos
Como nos projetamos,
Com nossas maiores virtudes
Nossos melhores atributos.
Queremos ser admirados,
Que vejam em nós aquilo que desejamos ser.

* * *

Busco nas retinas que me vêem
O reflexo do que para elas sou.
Para as mais distraídas,
As que apenas olham,
Sou o personagem que faz rir
Pelo tipo, pelo texto.
O meu público eles, eu o show.

Outras mais perspicazes olham-me nos olhos
Visão recíproca
Como por uma vitrine:
Espelho e vidro a um tempo,
Vemos a nós e ao outro simultaneamente
Essas também se incomodam.
Vêem meu olhar crítico
E vislumbram essa sombra existente sob meus olhos
Que a primeira vista pode parecer tristeza.
Esses costumam me olhar sempre a fundo
E com alguma reserva

E há as que me observam
As que têm curiosidade e paciência
Que driblam a personagem
Se aventuram na névoa
E buscam algo mais real.
Gosto particularmente dessas, pois me permitem chegar até aonde estou.
Pois é lá atrás da personagem,
Em meio à sombra
Que me projeto como desejo ser.

Mas poucos chegam até aí
Sei que não é fácil o acesso,
E mesmo os que lá vão,
E observam o que em mim é belo,
Cedo ou tarde cedem (contra minha vontade)
À forte influência da minha grossa couraça
O meu primeiro personagem.

Quem Você Poderia ter Sido

Quando nasci você não era mais poeta
Era pai de família,
E ao contrário do primogênito
Eu não ganhei uma poesia.
Fui descobrir mais tarde
E aos poucos
Que você tinha escrito poemas.
Parece que numa outra vida.
Onde jogava bola
Assistia filmes de arte
Saía com os amigos
E tinha sonhos.

Pai, eu escrevo poesias.
Adoro filmes de arte
Tenho amigos e sonhos.
E tenho medo de ser como você
De ser o que você se tornou.
Uma pessoa infeliz.
Eu quero ser parecido
Com quem você poderia ter sido

Se o Clube de Cinema não tivesse acabado
Se as neuroses não tivessem vencido
Se os sonhos não houvessem sido esquecidos.
Se a sua luta não houvesse sido em vão
Se você fosse mais forte.

Talvez eu tivesse ganhado uma poesia
Ou pelo menos a outra não teria sido esquecida

Uma História Feliz

Era uma vez um homem rico que casou com uma moça rica. Tiveram um filho e uma filha.
O filho se tornou um magistrado respeitado e casou duas vezes. Teve duas meninas com a primeira esposa, uma cirurgiã renomada, que conhecera nos tempos da faculdade, e um menino com a segunda esposa, sua antiga assistente.
A filha seguiu a carreira de secretária bilíngüe em uma multinacional e acabou casada com um grande empresário americano de uma companhia associada. Mudaram para os Estados Unidos e tiveram dois filhos.
Esses dois meninos cresceram e viveram sempre na América, sendo que um se formou em medicina e o outro em processamento de dados. Os primos que moravam no Brasil iam visitá-los em julho, sendo o primo do segundo casamento publicitário, e as duas primas do primeiro casamento trabalhavam respectivamente com arquitetura e design de interiores.
Nessa altura a arquiteta era a única da sua geração que possuía crianças: duas meninas, que iam para Nova Iorque sempre acompanhadas pela babá Marinalva, que segundo a patroa era uma moça muito boazinha, limpinha, morena bem clarinha.
Com o tempo mais crianças se juntaram às duas meninas, aumentando a família, por parte dos tios americanos e brasileiros. Esses novos membros, ricos e bem educados, cresceram e tiveram seus filhos ricos e bem educados, que depois por sua vez tiveram seus filhos, que tiveram mais filhos, mais ricos e mais educados, perpetuando assim a estirpe do saudoso patriarca com muita riqueza e educação, pelos séculos e séculos. Amém.

O Que Importa

Não me importa o seu sotaque
O IDH da sua cidade
O quanto de melanina
Tem sua pele: a sua cor.
Não me importa no que crê
Qual a sua religião
Em qual instituição
Qual seu mártir, qual seu deus.
Não importa a sua classe
A sua renda per capta
A sua escolaridade
A sua idade, o RG.
O número do seu PIS
CNH ou CPF
O seu FGTS
Seu IR, IPTU
Não me importa o seu sexo
Com quem você faz sexo
Se é do mesmo sexo
Se faz sexo ou amor.
Não importa o seu partido
Sua visão política
Direita, esquerda ou centrista
Pra que time você torce.
Não me importa seu biotipo
Seus genes, seu psicológico
Arquétipo, estereótipo.
O seu ego, o seu nome.

Tais futilidades não me interessam
O que quero saber
É o que você pensa no instante em que percebe que está vivo.
O que quero saber
É quem você é.

O Quarto sem Janelas

Essa eu fiz na minha cabine, no navio.

Tudo dentro de mim
Todo eu dentro de mim
Só sou eu dentro de mim
Em um quarto sem janelas

O mundo fora de mim
Tempo e espaço fora de mim
O sol arde fora de mim
Fora do quarto sem janelas

O globo gira comigo
O mar balança comigo
Meu amor sonha comigo
Longe do quarto sem janelas

Pessoas dançam comigo
Crianças brincam comigo
Alguns outros vivem comigo
Há mais quartos sem janelas

A solidão invade-me
A ilusão invade-me
A confusão invade-me
Nesse quarto sem janelas

O corredor invade-me
A embarcação invade-me
O oceano invade-me
Eu no quarto sem janelas

Em mim ainda sou eu
Só comigo sou eu
Pergunto-me quem sou eu?
Eu sou um quarto sem janelas.

O Ritual do Vinho

A mão colhe o fruto.
Com os pés faz-se o mosto.
Do açúcar se alimenta o fungo
Que gera o álcool
Que enrubesce o rosto.
Os olhos se embriagam.
A terra seca outra vez.
Depois do porre, a ira,
A maldição lançada,
Por ter sido coberta a nudez.
A cortiça impede a entrada
Do ar, mensageiro do tempo.
Que oxida, forma o vinagre
Levado aos sedentos lábios
Do mártir pouco limpo.
No balanço ensaiado da taça
(antes do brinde onde o cristal canta),
As narinas o aroma julgam:
Cabe ao homem a aprovação.
Cabe a ele pagar a conta.
Como no vazio do céu retinto
Fulgura poético o círculo branco,
Ele só por ser emana poesia,
Na festa e no vício,
No trono, num banco.
Por simbolismo em sangue tornado.
Por milagre, da água surgido.
Sorvido com melindre, tragado no gargalo,
Cumpre sua sina:
Pelo homem criado, pelo homem consumido.

Prece

Obrigado Senhor por eu ainda ter fé, apesar de saber de todos os absurdos que fizeram e ainda fazem usando Seu nome.
Obrigado Senhor por eu ainda ter fé, apesar de ver Sua palavra sendo utilizada para manipular o povo e conquistar poder.
Obrigado Senhor por eu ainda ter fé, mesmo tendo ciência da quantidade de pessoas que morreram por acreditarem ou duvidarem de Ti.
Obrigado Senhor por me livrar das instituições que pregam o Seu nome.
Obrigado por me livrar das tentações que elas oferecem; dos paraísos oferecidos em troca de obediência; da dogmática certeza da salvação, que é o ópio espiritual; do regozijo cruel de julgar condenado o próximo que optou por um caminho diferente.
Agradeço-lhe por me amar mesmo quando o questiono. E mesmo quando eu busco seguir minha vida sem você. Por me receber cada vez que volto sem me censurar; por conhecer minha natureza; por ser meu porto seguro.
Agradeço-Lhe por manter meus olhos abertos para enxergar Jesus como um exemplo, conseguir driblar todas as tentativas de transformarem-no em um ídolo, um mito para ser adorado e não seguido.
Glória a Ti, por me mostrar que os conhecimentos científicos não contestam a Sua existência, mas sim demonstram Sua perfeição, Sua profundidade e Sua grandeza.
E que antagonizar Fé e Conhecimento é obra de mentes radicais e corações apaixonados.
Obrigado por me fazer perceber que, embora minha fé não seja grande, ela é forte!
Por fim, peço-Lhe que sempre nos abençoe, e permita-nos escutar o coração e aprender com a natureza, que é a lousa onde o Senhor nos transmite a lição. Amem.

Luzescrita

A cortina se abre.
Então a luz entra e inunda,
Dando forma ao que era antes escuridão
E congelando uma fração de segundos.
O artista permanece na sombra.
De onde está, ninguém poderá ver seu rosto.
Mas ele sabe que,
No momento em que abriu a cortina,
Ele mostrou sua alma.
Pois não importa a imagem que os olhos verão:
Que seja uma paisagem,
Que seja um retrato,
Que seja abstrato.
Naquele fragmento de tempo
Está a essência do que ele é.
E então ele percebe
Que a sua arte não é sua,
Ele é dela,
E é ela que o conduz dentro dele
Na sua eterna busca por si.
E percebe que, nesta confusão de pronomes,
Por mais que invente novos nomes,
Por mais que surjam novos fatos,
Sua obra será sempre
Um auto-retrato.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Eu e a Vida

Como contemplar a vida de forma holística
Estando eu inserido nela?

Vida eu te amo, e te temo. Vejo-te como o auge da complexidade do universo.

Por vezes atinjo um grau de distanciamento que me faz refletir sobre a fugacidade da vida no ser. Vejo a vida ainda como um fenômeno maravilhoso, como um processo dinâmico que para mim tem caráter divino. Entretanto percebo que a minha existência está fadada ao esquecimento. Vejo-me como um dos seis bilhões de indivíduos da espécie humana que vive sobre a superfície da Terra no mesmo intervalo de tempo, que possui uma existência extremamente curta se comparada à história da humanidade, e a história da humanidade se mostra uma breve anedota se comparada à história da evolução da vida, história essa que é extremamente curta se comparada a história geológica da Terra, que por sua vez é ínfima se comparada a história do universo. E em aproximadamente cinco bilhões de anos o sol irá se apagar, e com isso a vida tal qual a conhecemos hoje não mais existirá.
E se Einstein, Sócrates, Platão, Aristóteles, Shakespeare, Jesus, Maomé, Freud, Marx, Adam Smith, Gandhi, e todos os outros ícones da nossa história serão esquecidos, que esperança resta para um Danilo?
Tenho um apreço tão grande pela vida, que o medo de perde-la torna-se quase em obsessão.

Reticências

Todo os átomos
Todas as moléculas do meu corpo,
Meus humores e vísceras,
Todo o seu corpo,
Pele, suor e poros.
E o teto e tudo que nos cobre
Tudo o que possuímos
Que ingerimos e excretamos
Os bens que acumulamos
E os infindáveis sonhos do nosso consumo.
A água que sempre mergulha
Buscando a terra que nos atrai,
E essa terra içada refém do vento
E a flora que ao vento a semente lavra.
Toda a matéria-prima
E a moeda paga e a manufatura
Toda obra de arte e arquitetura
As velhas e novas sete maravilhas.
Os artefatos tecnológicos
Os satélites que vagam na órbita
E o planeta azul que eles fotografam
E os astros que esse astro circundam
E os combustíveis que as estrelas consomem
Tudo o que dizemos ser matéria!

Ao todo toda essa realidade é na realidade
Cinco centésimos do universo.
O resto que sobra e que é quase o todo
É massa e energia escura
Aquilo que existe e ainda não entendemos
Que define cada número atômico
Que dá corpo a cada átomo
Em que consiste aquilo que é vácuo
O tecido do corpo espaço
O motor e volante do fator tempo

O ponto onde acaba a ciência humana
E se instauram as reticências
Que caótica ou ordenadamente
Definem nossa condição e existência.

Ser Dois

Esse é o meu jeito de contar a minha história de amor. Ainda bem que a Tá me entende...

Era um ser,
Agora é dois,
Pois outro se somou
Ao um que sempre foi.
E o outro que somou
Também sempre foi um.
Acrescido do primeiro:
É dois cada um.
Mesmo cada um sendo dois,
Somando os dois dá um.
E tirando meio de um, que é dois,
Não sobra nem um.
Cada um é dois.
Que são dois não se pode dizer.
Pois cada um pode ser dois
Mas não pode ter dois ser.

Atividades

vida ativa idade
A ti aditiva
diva da dádiva
Seita
TV edita veta desvia
Dita e desdita
Avia as Vaidades
Eva vestida
Evita de dá
SIDA
Estiva tesa
Desata Vadia
Ais
sedativa seda
divida dívida
esvai seiva
Ave ávida
Vá-te data
Ide ida
Dia-dia
Seta via
Vide Vê
Visa divisa
Se esta vista vasta veda
eis atividade