sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Compulsão

Acordo decidido a ser forte
Durante a madrugada prometi a mim mesmo
Uma prece pra selar a promessa.
Ergo-me intrépido
Olho o espelho e tolero o que odeio ser
Pois não serei assim amanhã
Não mais
Vou vencer a tentação

Eu o vejo
Lá está o objeto da minha compulsão.
Sempre assim, sempre a me testar.
Eu sei o que devo e o que não devo
Aquilo é um chamariz
Eu sou o ser racional.
E racionalizo o tempo todo
Enumero os malefícios que ele me faz
E continuo o encarando como um inimigo
Mesmo quando emana uma áurea de luz que lhe encobre
Amaldiçôo aquilo mesmo enquanto me movo em sua direção
E praguejo contra ele até quando minhas costas se rasgam
E brotam das minhas entranhas duas asas pardas e triangulares
Ele envolto em luz
Eu me aproximo com minhas asas
E o encaro, o amaldiçôo e praguejo
Ele brilha e eu o beijo
E alado me queimo
Caio no engodo
Traidor de mim mesmo
Deliciando-me a custa de minha dupla desgraça
Depois do gozo do fraco virá a culpa
Eu enforcado na figueira
Eu pregado na cruz
Beijei meu próprio umbigo para receber as trinta moedas
E derrotado me deito, a espera de outra madrugada.

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