sábado, 28 de novembro de 2009

Biografia do meu pai e algumas de suas poesias

Essa biografia foi feita pelo Miro Antunes, um amigo do meu pai, e publicada originalmente no seu blog: "Picles cultural". Algumas dessas poesias eu nem conhecia. Agradeço ao Miro pelo carinho e empenho em preservar esses textos.
ELOY CORRÊA DE OLIVEIRA NETO (CAPIBA)
Conheci Eloy em 1967, graças a meu amigo Juracy Silveira. Eloy fazia parte de um grupo que se encontrava no atelier do Jura, e que funcionava como ponto de encontro da turma. Além de Juracy, Eloy, faziam parte do grupo Maurice Legeard, Vasco Oscar Nunes, João Carlos Batista, Reginaldo Cavalcanti, Floreal, Zoé, e eventualmente apareciam Beatriz Rota-Rossi, Luiz Hammen, Luis Garcia Jorge.
Eloy gostava de poesia concreta, Drummond, Augusto dos Anjos e foi ele quem me “apresentou” a esses gênios. Sob essas influências e sua visão crítica e imediata das coisas, produzia seus belos trabalhos.
Eloy se ligava em certos detalhes, como a palavra “irreversível”, muito usada pelos militares em relação à “redentora”, e tinha a intenção de produzir um texto usando esses termos criados pelos “revolucionários” de 1964. Ganhou o apelido de Capiba – que assinava KPiba (O “PI” era aquele símbolo matemático), por causa do rio Capiberibe e de outro Capiba, também pernambucano – e de Garibaldi, por chamar assim a várias pessoas, principalmente a mim.
Pretendia reunir em livro seus trabalhos, usando o pseudônimo de “ECON” – suas iniciais – mas dificuldades impediram que o realizasse.
Íamos sempre ao cinema, principalmente às sessões de meia noite no cine Roxy, programadas por Maurice, que coordenava o Clube de Cinema de Santos, e ouvíamos música, líamos muita poesia, era uma época, apesar do golpe recente, de muita criatividade, discussão política, com toda a repressão, censura e alcagüetes que se multiplicavam como ratos, principalmente na refinaria de Cubatão, onde trabalhávamos. Minhas filhas, pequenas, o adoravam, chamava Geórgia, a mais nova, de “ Bábi” e, em vez de beijá-las, dava um cheiro em seus cabelos, o que divertia Roberta, a mais velha.
Eloy era íntegro, muito franco e explosivo. Tinha respostas sempre prontas, espirituosas. Eu também freqüentava sua casa e fiquei muito amigo da família, o Pastor Eclésio, da Igreja Batista, a mãe, dona Isabel, os irmãos Iracema, Lutero, Marcos e Nina, a caçula. O pastor gostava das piadas que eu contava, ria muito, era muito culto, era poeta e pintor, reproduzia fielmente os engenhos de açúcar de Pernambuco, de onde vieram. Preparava um livro, “Nordeste, a Terra e o Homem” ilustrado por ele. Eloy herdou dele certa habilidade para o desenho. Um dos poemas que conheci do pastor se chamava “A Língua”, e gostei tanto, que nunca mais esqueci. Uma gente simples, amiga, verdadeira, com quem me identifiquei muito. Eloy deixou o evangelho e entrou para o Partido Comunista, uma guinada de 180º com todas as implicações que aquilo significava naqueles férteis anos 60. Mas não se afastou da família, amava-os com muita dedicação e era seu esteio, pois tinha um bom emprego. Quase todos tinham certa deficiência auditiva, Eloy ouvia mal de um dos ouvidos e lembro que quando tomávamos condução ele sentava com o ouvido bom a meu lado, para me ouvir melhor. Achava que uma revolução brasileira começaria pelo nordeste. Alguns acidentes seguidos na refinaria fizeram com que deixasse a Petrobrás. Casou-se com Ana Lúcia, que morava em Santo André, e foi morar naquela cidade. A distância, o trabalho, fez com que nos víssemos pouco. Ele veio a Santos para uma das homenagens a Maurice Legeard, morto em 1997. Trouxe aos amigos uma coleção que deu o título “Pensando Pensamentos”, em maio de 1998, com textos de Walt Whitman, Roger Garaudy(vários), Aragon, Manuel Bandeira, Mahabharata e até Jesus Cristo. Depois contraiu diabetes, nos últimos anos teve isquemia cerebral, sofreu cirurgia cardíaca e faleceu em 12 de abril de 2008, três dias depois que fui operado do coração.
Os trabalhos que se seguem ficaram numa pasta que deixou comigo, e é para que se tenha uma idéia de sua forma de ver o mundo, as pessoas, as contradições. Eu teria mais histórias, muitas engraçadas, para contar de Eloy, mas ficarão para mais tarde. Em meus registros contei cerca de 110 idas ao cinema, fora peças de teatro, como “Hair”, a apresentação de Paulinho da Viola no cine Caiçara e outros espetáculos.

Argemiro Antunes - MIRO
UM RAPAZ DE FUTURO – 1968

Não era em vão
De d. Flora
A preocupação.
Noite a dentro
Fazia o amor
Para do ventre
Brotar uma flor

Como mulher que se preza
Empolgada com a missão
A náusea suportou
Agüentou a gestação
Hoje Mater Et Magista
Por amor a João

Veio o dia
D. Flora floresceu.
Mariquinha já cresceu;
Sua eterna esperança
Sua própria extensão

Nas pegadas da menina
O gaiato apareceu;
Logo veio a indagação:

“É rapaz de futuro,
Dá duro o vilão?”

Amante, sonhadora
Mariquinha logo acode:
“Não, Não dá o duro
Trabalha com parafina
Tem as mãos finas
Mas é rapaz de futuro

Nasceu nos anos cincoenta
Os anos setenta alcançou
É rapaz de futuro
Amanhã será um doutor.

Gerismundo é seu nome
O futuro já o cercou
Tem uma ninhada de filhos
Asma brônquica e ANADOR
Tem “bicos de papagaio”
“papagaios” a pagar
E pra não sair da rotina
Parafina a fabricar...
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MARIA - 1967

(Eloy disse que se inspirou enquanto
Esperava o ônibus da Petrobrás e passou
Outro ônibus, escrito ALBA S.A., que
Também é um nome de mulher)

MARIA DE JESUS
MARIA DAS GRAÇAS
MARIA DOS PRAZERES
MARIA JOSÉ
DE JOSÉ
DE ANTÔNIO
MARIA DAS MERCEDES
DOS MERCEDES
MERCEDES BENZ
CHEVROLET
FORD
MARIA DA GLÓRIA
MARIA DAS DORES
MARIA DO SOCORRO
MARIA DE SÁ
MARIA SÁ
MARIA S.A.
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ALGUÉM


ELA ALGUÉM, A QUEM

SE AMA

ELA ALGUÉM, A QUEM

SE QUER

EU ALGUÉM,


AQUÉM...


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A PEDRA DE CADA DIA



Eloy quer casar...
Fulana quer casar...
Mas as pedras não se transformam em pão.
Nem de pedra vive o homem.

VAI NAMORAR


Vai namorar...
Não é nada de mais...
Também nada de muito... dizem
Muitos que em amor...
Afogaram as almas em POÇOS DE CALDAS, em Minas Ge-
rando amor...
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AMOROSOS


Amorosos vão amar...
que amar -
gar...
amar -
gurar...
Vão amorosos amar...
Neste amor que se tem
Com prece... com tudo...
contudo
amortece...
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TRISTEZA DO MONO-AMAR



Por que amei,
e o mono amei...
neste amar, enamorar e mono-amar?...
Por que amei e não poligamei?
Por que vivi...
Vivi o mono, o monótono...
Tristeza do mono-amar?
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MINHA ROSA


Passou.
O tempo passou...
era rosa,
flor-rosa...
formosa.
Veio o asco...
E a rosa já não é rosa,
é asquerosa.
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FETO


Feto a feto:
afeto.

Feto co fetos...

fetos infe tos.
c

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MENINA BOBA


Que menina boba...
menina pedante!
Anda de ônibus, salta de
ônibus...
oni –
potente quer ser...
salta,
não me olha,
não me vê...
vai menina

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MURMÚRIO


Como olhar o mar, salgado mar... mar-
tírio...
Como olhar o mar e os mar –
tires...
mortos no mar...

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DESPERTA



Desperta!
Estás no crime, no mundo...
estás junto adjunto...
Desperta adjunto, caro ad...
ardes junto no Hades...

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NAMOREI


Namorava (Eu),
Era ela Maria.

Namorava (Eu),
Era ela Tereza.

Namorava (Eu),
Era ela fulana...

Namorei...
sou Elo y...

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OS VELHOS


Olhem os velhos!
Olhem os velhos!
Como olham
os tempos,
os templos...
olhem os velhos...
olham a hora, a hora... e
aorta à hora em que entor-
ta.

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O CUSPO



O cuspo

O cupido

O cuspo

O cupido

cuspo
cupido



cuspido


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AMOROSOS


Amorosos vão amar...
que amargar...
amargurar!

Vão amorosos amar...
neste amor que se
tem com prece...
com tudo
amortece
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V E R A L I C E




V

V E

V E R

VER ALI

VERALICE

VER A VELHICE

VERALICE

VER ALI

V E R

V E

V










Todos os poemas deveriam pertencer a um
trabalho, com o título de “HUMANADOS’,
e o pseudônimo de ECON, iniciais de “Eloy
Corrêa de Oliveira Neto (8.7.1944-12.4.2008)
Veio para Santos em 23.6.1960.
Os poemas foram escritos em 1967/1968.




A LÍNGUA

Eclésio Corrêa de Oliveira (4.7.1914-12.8.1978)

Certo viajor, em longa caminhada
Atravessava uma região serrana
Como quem busca o ideal sem gana
Indiferente ao rumo da jornada

No desagravo desta vida insana
Desprezando o ardor da sorte herdada
Encontra, com surpresa, junto à estrada
Um arcabouço de ossada humana

Abandonado, envolto num mistério
Despreza a paz feliz do cemitério
Num ar sombrio de quem morreu à míngua

E o viajor, sem lhe saber o nome
Interpelou: Quem te matou? A fome?
E uma voz sumida respondeu: A língua

domingo, 8 de novembro de 2009

Hai Kai em Dois Tempos

Passado aflora
na mente, mas do presente
Já se ignora

Passa tempo e hora
com estória da memória
mas e o agora?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Artista e a Cidade

essa foi feita sob encomenda, para o documentário que o meu irmão está dirigindo.

A cidade o lugar
O artista a relação
A cidade é paisagem
O artista é adereço
A cidade como território
O artista como marco
A cidade enquanto espaço
O artista enquanto história

A rua é o palco inconstante
Onde o corpo se apresenta
O caos instituído
Que a mente reorganiza
O picadeiro improvisado
Onde o coração mergulha
A galeria ruidosa
Onde a alma é exposta

O artista é a rua de mão dupla
Devolve a carga que assimila
A praça imponente e verde
E às vezes tão vazia
O trânsito repleto que não flui
Grandes anseios e pequenos passos
A cidade enfeitada para festa
Que mostra o que possui de mais belo

A maquiagem além de tinta
É feita de suor e fuligem
A iluminação é o céu e o sinal
As nuvens fazem fade in, fade out
E o passante é o mecenas
Que lança ao chapéu surrado
O aplauso ou o metal
O seu reconhecimento

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Invocação

Venha por favor
Invada minha casa
Permita-me mudar
A mim mesmo e ao mundo
Permita-me encontrar
A verdadeira poesia
Venha e me erga
Dê-me inspiração
Venha e me dê força,
Também paz, me dê amor.
Traga a coragem
Mostre-me a beleza
E o que mais precise
Dê-me a rima certa.

domingo, 20 de setembro de 2009

Redações

Remexendo meus fichários antigos, achei essas redações feitas no 2o ano do colegial, para a matéria de psicologia. Achei interessante rever esses textos e resolvi postar, sem mudar ou corrigir absolutamente nada. Abaixo de cada texto o respectivo comentário da professora Josi após a correção e minha réplica , feita no momento dessa postagem.

Tema: Quem sou eu?

Sou humano, ou pelo menos foi o que me disseram. Sou um ser que vive a base de valores abstratos como honra, dignidade, honestidade, etc, mas que no fim, como todos da minha espécie, acabo lutando por outras entidades que nada têm a ver com as primeiras, por exemplo dinheiro, status, poder.
Sou uma pessoa que em meio a massa procura manter sua individualidade, procura ser alguém.
Não sou ninguém.
Sou um número. Sou parte de alguma estatística. Parte numa lista de chamada. Sou uma carteira de identidade, uma carteira profissional, um C.P.F, um título de eleitor.
Sou um cidadão.
Sou um adolescente, desempregado, vivendo em conflitos, sou um poeta, uma criança. Alguém que está aprendendo. Aprendendo a viver, aprendendo história e geografia, aprendendo a amar e a resolver inequações trigonométricas. Aprendendo a jogar o jogo da vida.
Não sei se sou ou apenas estou insatisfeito.
Em meus sonhos, sou herói, sou forte, roqueiro. Sou bandido, tenho asas. Em meus sonhos vejo o mundo do meu jeito, e pra mim este seria o mundo perfeito. Mas sou apenas um, e o mundo é composto por milhões. Talvez até fosse bom que todos pensassem como eu, mas não sei se suportaria bilhões com defeitos iguais aos meus. Sou um sonhador, que procura nos sonhos e nas fantasias a força que precisa para enfrentar a realidade.
Sou Feliz.
Sou tudo isso, e muitas outras coisas que agora não lembro. Sou tudo que passei e aprendi durante minha vida. Sou filho, de Deus e dos meus pais, sou irmão, sou amigo, sou vizinho. Sou visto e, bem ou mal quisto, sou apenas eu, Danilo Corrêa de Oliveira.

comentário da professora: Legal, fique atento com erros e concordância!

réplica: Ainda não entendi se era para ficar atento com os erros e concordância do texto ou da vida!



Tema: Juventude em tempos de Globalização, onde você está?

Estou em meio à massa, tentando me adaptar a todas essas mudanças. Dia a dia, hora a hora, novas notícias nos informam sobre a política, a economia e a ciência do mundo todo, e o que fazemos é tentar assimilar o máximo possível de informações e nos mantermos atualizados diante da correria que é a vida moderna.
Mas tudo é muito relativo. Muitas pessoas que “navegam” o mundo inteiro através da internet, nem sequer abrem as janelas de suas casas para ver a realidade que as cercam; ficam preocupadíssimos com a desestabilização da economia no México, mas não dão a mínima para a miséria das pessoas de sua própria cidade nem tampouco para as sucessivas queimadas que acabam com toda a nossa flora. Já inventaram o pentiun III, mas ainda não descobriram a cura da AIDS. É triste isso, o homem querer inventar um novo mundo esquecendo aquele que recebeu de graça, e que é o que o faz viver.
E eu continuo em meio a massa, tendo a esperança de que, com tantas informações que recebemos diariamente, possamos tomar uma consciência mais madura, para assim utilizar a globalização de fato para nossa evolução, e não nossa auto-destruição.

comentário da professora: Estava indo muito bem, poderia ter desenvolvido mais!

réplica: Mea culpa!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Pauta

O Caso do Assassinato de Isabella Nardoni
O Caso Isabella Nardoni
O Caso Isabella
Isabella
bella
ella
la
a
acaso
ocaso
o caso
O caso do assassinato da menina Eloá...

Os gols da rodada após os comerciais.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ficção

uma de minhas poesias favoritas.


Tudo começou com o big-bang, que foi um bang bem grande / Do nada, o nada explode, vira massa, e o universo se expande / Isso é uma complicação: condensação, rotação, translação... / Nasceu Adão/ Mas já nasceu com depressão/ Foi preciso que seu pai lhe arrancasse uma costela / E dela fizesse a donzela pra alegrar seu coração / Ele não se fez de rogado quando se sentiu amado / Cometeu até pecado / Parecia um dinossauro / Um triceratopterodatiranorex Sapiens / Mas depois de muitos anos os climas se alteraram / Os vulcões se acalmaram / As terras se separaram / E a filharada que vivia espalhada não soube voltar pra casa / Então fincaram raízes / Aprenderam, ensinaram, procriaram, povoaram aquelas terras que chamavam de países / Tinham até hinos nacionais / Mas essa espécie, mesmo tão inteligente, se esqueceu que o importante dessa vida é amar / Se preocupavam tanto em fazer o fogo / lascar pedra, fazer roda e telefone celular / Já não sabiam mais se vinham dos macacos, dinossauro, Adão e Eva, da poeira ou do mar / Assim eles perderam a identidade, desistiram da verdade e começaram a inventar / Inventaram a escrita / O sistema decimal / Inventaram a Política / O tal do capital / Inventaram a mentira / Inventaram até verdade / inventaram a hierarquia / A chamada sociedade / Inventaram o teatro / Música dodecafônica / Inventaram a guerra / E também a bomba atômica / Aí o passo desandou / O barranco deslizou / Todo caldo entornou / Atlântida afundou / O paraíso acabou / Caim matou Abel / Houve a Torre de Babel / Um foguete foi pro céu / Nero fez um fogaréu / O Homem ficou pinéu / Querendo conquistar / Por isso Roma, Napoleão Bonaparte / Idade Média, o cinquecento / Sun Tzu, Maquiavel / Czar Stalin, que se fazia vermelho, mas matou muitos parceiros para poder se firmar / Aquele austríaco de Áries e bigode, que se matou de remorso por ter matado um judeu / E os europeus / Que de barco destruíram, dizimaram e descobriram o que eles já conheciam / Inclusive um tal Brasil / Que na época não tinha esse nome, mas já tinha muito homem vivendo na Mãe Gentil / E esse gentio viu sua mãe ser estuprada / Bem como suas esposas, durante a invasão / Viu sua história, seus costumes, suas crenças, se perderem em meio ao sangue / E as árvores no chão / Ainda hoje alguns deles são queimados por jovens aristocratas do distrito federal / É uma forma dos futuros governantes, representantes de toda a população nacional / Se lembrarem dos famosos Jesuítas e também dos bandeirantes que fizeram quase igual / Catequizaram, exploraram, aprisionaram, obrigaram aquele povo a aceitar um tal de Deus / Que não gostava de quem era antropófago, nudista, preguiçoso, bronzeado ou fariseu / Mas sucedeu que o povo não acreditou nem tampouco se entregou, preferiram até morrer / E eles morreram / Mas depois os “Cara Pálida” que odiavam trabalho não souberam o que fazer / Resolveram então aderir à moda / Pega preto, encaixota, põe num navio pra trazer / - “Vê se sossega, porque preto é bicho manso / Pode até morrer de banzo, mas não vai te aborrecer” / Então dessa mistura harmoniosa, a gloriosa identidade brasileira foi nascer / A identidade que se orgulha do tal samba / Da feijoada e da cachaça / Coisa boa pra inglês ver / Dança, e canta, olha a bunda da mulata / Sem saber que a coitada não tem nem o que comer / E também não sabe ler / Mas mesmo assim, subnutrida, analfabeta, a mulata se balança no meio da multidão / E a multidão, quando lê “ordem e progresso”, em meio ao verde amarelo, se lembra da seleção / De quatro em quatro anos tem Copa do Mundo / Mundo que está no universo / Universo em expansão.

Cantiga de Natal

Natal natalis é nascer
Celebra-se a vida
Célebres histórias
Cristo, pai, mãe, magos reis
Ouro, incenso e mirra têm
Perto da manjedoura
Há vários animais.
Martinho em casa o galho quis
Enfeitar como a neve o fez
Hoje há algodão
Lâmpadas a brilhar
Nicolau turco generoso
Polo Lapônia e trenó
Laços Bengalas Meias
Renas e chaminés.

Natal completo é te ver
Nasce o natal em mim
Só junto de você
Deus é grande, mas se vou
Longe sinto dentro um frio
Mesmo se tem presente
Mesmo se tem perú.
No lar Deus fica quentinho
Nascemos um pouco ali
Quero te abraçar
De tanto ser feliz
Tanta história se mistura
César Pedro vai e vem
Mitra, inverno, sol.
Papa Júlio diz amém

Natal de fato é lembrar
Que o amor vai nascer
E a paixão chegar!

Cartà Magrela

primeira poesia que fala de amor...

Olho as linhas do papel.
Dentro sou todo turbilhão
de pensamentos, sentimentos
e palavras.
O que dizer?
Como explicar a transformação?
Você me transformou!
Como quem não quer nada,
Como criança levada,
levou embora o meu chão.

Mas eu não caí.
Aprendi a voar.
E também que amar não é se prender,
é se unir;
não é perder e se perder,
é entregar e se achar.
E aprendi a falar de amor.
Entendi porque nenhum poeta resiste ao tema.
E porque nunca tinha entrado nele.
O amor é impossível de ser calado,
Mas apenas se for sentido.
E sentido por mim ele é.
E mais sentido não é preciso ter,
sejam quais forem suas conotações,
pois nesse momento me vejo junto à você.
Por enquanto é só imaginação.
Mas de qualquer forma é uma imagem
e, como diz o chavão,
uma imagem vale mais do que vil palavra.
Cada vez escrevo menos
Porque já escreveram tanto
Tantas frases belas que ainda são ouvidas,
citadas, ecoadas, deturpadas
E continuam a escrever ainda
de modo tão frenético
sobre todo e qualquer assunto
Abarrotam de períodos as estantes
E mais Kbites são salvos no HD
Vestem de gala as palavras pras vitrines
Para adiar a fatal morte dos catálogos
A verborragia é tão caldal
Que é impossível não ser banal,
Não cometer uma rima fácil,
plagiar, ser redundante.
Por isso calo minhas linhas
Pois para mim são caras
E não as quero mendigas dessa megalópole literária.
Permanecerão platônicas:
A idéia de um poema.
Não por isso mais nobre,
mas desprovida do peso de qualquer matéria.

Compulsão

Acordo decidido a ser forte
Durante a madrugada prometi a mim mesmo
Uma prece pra selar a promessa.
Ergo-me intrépido
Olho o espelho e tolero o que odeio ser
Pois não serei assim amanhã
Não mais
Vou vencer a tentação

Eu o vejo
Lá está o objeto da minha compulsão.
Sempre assim, sempre a me testar.
Eu sei o que devo e o que não devo
Aquilo é um chamariz
Eu sou o ser racional.
E racionalizo o tempo todo
Enumero os malefícios que ele me faz
E continuo o encarando como um inimigo
Mesmo quando emana uma áurea de luz que lhe encobre
Amaldiçôo aquilo mesmo enquanto me movo em sua direção
E praguejo contra ele até quando minhas costas se rasgam
E brotam das minhas entranhas duas asas pardas e triangulares
Ele envolto em luz
Eu me aproximo com minhas asas
E o encaro, o amaldiçôo e praguejo
Ele brilha e eu o beijo
E alado me queimo
Caio no engodo
Traidor de mim mesmo
Deliciando-me a custa de minha dupla desgraça
Depois do gozo do fraco virá a culpa
Eu enforcado na figueira
Eu pregado na cruz
Beijei meu próprio umbigo para receber as trinta moedas
E derrotado me deito, a espera de outra madrugada.

Antes do Segundo

outra poesia feita a bordo...

Estava deitado,
O ambiente quase escuro
Uma fraca luz azul.
A garganta contraída
Daquela maneira a que denominam “nó”.
Era um momento de reflexão,
De pesar prós e contras,
Onde minha tendência trágico-neurótica
Revestia de chumbo qualquer aspecto negativo
Como carência, solidão, culpa, pressão, etc,
Fazendo o prato da tristeza baixar convicto
E eu me sentir tão abstrato quanto esses substantivos.

Como de costume, brotou,
Desse nirvana às avessas,
O medo, arquiinimigo do ego.
Retorceu forte meu estômago,
Gelou meus pulmões,
Subiu borbulhando pelas vias aéreas
Produzindo catarro, saliva
E lágrimas.
Sem dúvida estava triste,
Mas o que me fazia chorar era o medo.
De não saber porque estava triste,
Não saber do que tinha medo.
Chorava como a criança que mantém o pranto
Mesmo após esquecer o que causou a dor.
Queria me chorar inteiro:
Minhas mágoas e fraquezas,
Meus traumas e complexos,
Meus erros e defeitos.
Queria chorar o mundo
Com todas as suas injustiças.
Mas nesse momento
Todos os relógios do injusto mundo
Avançaram um segundo
E soou a campainha do despertador.
Então não tive outro remédio
Senão levantar-me,
Secar o rosto,
Vestir meu sorriso
E sair.

Ler Uma Poesia

Ler uma poesia
É embrenhar-se numa alma

Acaso queira dar-se ao trabalho
De seguir esses versos
Verá o caos que existe em mim.
Portanto pare,
Não leia.
Antes reflita o real valor de invadir um espírito.

Sempre haverá o belo
Mas nem sempre o belo é bonito de se ver.
A escultura do poeta tem como modelo
A própria existência humana
E a humana incapacidade de explica-la

Ler um verso é fútil,
Escreve-lo é vil.

É teimar em acordar a angústia que a civilização,
Que as instituições, a tanto custo
Tentam acalentar.

Por que ir além
E perder de forma vã o sono?
Esqueça o belo!
Contente-se com o sensual,
O saboroso,
O cheiroso, o táctil.

Ganhar dinheiro e cumprir horários.
Muito mais fácil que questionar
O que é valor,
O que é tempo.

O conselho está dado
A liberdade é sua.

Entretanto
Se insistir na leitura
Apesar das advertências
Não posso lhe parabenizar
Dizer que foi uma boa escolha
Um ato nobre

Posso apenas erguer minha taça
Que transborda inutilidade
E oferecer-lhe um brinde mudo
Porque aqui se poupam palavras
Para que beba a vontade de minha alma
Corriqueira e sem requinte
A alma de um filho bastardo da vida
Um seu irmão.

O Livre Arbítrio

Eu me salvo e me perco,
me glorifico e me dano.
Responsável por mim mesmo,
Cada ação que tomo repercute imediatamente em mim.
Sorte e revés decorrem de minha ação ou inércia,
E mesmo sem ciência do melhor momento para agir ou esperar,
Tendo sempre de usar minha fraca intuição como norte,
Não posso abster-me da tutela que possuo da minha vida.

* * *

Sou responsável por mim
Mas não escolhi ser quem sou.
Quando tomei as rédeas da consciência
Eu já era alguém
Tinha um esboço de destino traçado pelo ADN
Genótipo e fenótipo
Imunidades e propensões
Antes de saber, eu já existia.
E sem conhecer-me ou conhecer a vida
Devo guiar-me através da névoa do tempo
Sem saber se sigo o único caminho possível
Ou se transito por milhares deles
Que conduzem, todos, sempre ao mesmo fim.

Olhares

Diferentes olhares
Com dizeres mil
De um ou outro modo
Todos incomodam
Todos me afetam
Ser observado é ser consumido
Invadido, interpretado e julgado
É estar à mercê do próximo
Ser ignorado é inexistir
É carência, solidão.

Queremos ser vistos
Como nos projetamos,
Com nossas maiores virtudes
Nossos melhores atributos.
Queremos ser admirados,
Que vejam em nós aquilo que desejamos ser.

* * *

Busco nas retinas que me vêem
O reflexo do que para elas sou.
Para as mais distraídas,
As que apenas olham,
Sou o personagem que faz rir
Pelo tipo, pelo texto.
O meu público eles, eu o show.

Outras mais perspicazes olham-me nos olhos
Visão recíproca
Como por uma vitrine:
Espelho e vidro a um tempo,
Vemos a nós e ao outro simultaneamente
Essas também se incomodam.
Vêem meu olhar crítico
E vislumbram essa sombra existente sob meus olhos
Que a primeira vista pode parecer tristeza.
Esses costumam me olhar sempre a fundo
E com alguma reserva

E há as que me observam
As que têm curiosidade e paciência
Que driblam a personagem
Se aventuram na névoa
E buscam algo mais real.
Gosto particularmente dessas, pois me permitem chegar até aonde estou.
Pois é lá atrás da personagem,
Em meio à sombra
Que me projeto como desejo ser.

Mas poucos chegam até aí
Sei que não é fácil o acesso,
E mesmo os que lá vão,
E observam o que em mim é belo,
Cedo ou tarde cedem (contra minha vontade)
À forte influência da minha grossa couraça
O meu primeiro personagem.

Quem Você Poderia ter Sido

Quando nasci você não era mais poeta
Era pai de família,
E ao contrário do primogênito
Eu não ganhei uma poesia.
Fui descobrir mais tarde
E aos poucos
Que você tinha escrito poemas.
Parece que numa outra vida.
Onde jogava bola
Assistia filmes de arte
Saía com os amigos
E tinha sonhos.

Pai, eu escrevo poesias.
Adoro filmes de arte
Tenho amigos e sonhos.
E tenho medo de ser como você
De ser o que você se tornou.
Uma pessoa infeliz.
Eu quero ser parecido
Com quem você poderia ter sido

Se o Clube de Cinema não tivesse acabado
Se as neuroses não tivessem vencido
Se os sonhos não houvessem sido esquecidos.
Se a sua luta não houvesse sido em vão
Se você fosse mais forte.

Talvez eu tivesse ganhado uma poesia
Ou pelo menos a outra não teria sido esquecida

Uma História Feliz

Era uma vez um homem rico que casou com uma moça rica. Tiveram um filho e uma filha.
O filho se tornou um magistrado respeitado e casou duas vezes. Teve duas meninas com a primeira esposa, uma cirurgiã renomada, que conhecera nos tempos da faculdade, e um menino com a segunda esposa, sua antiga assistente.
A filha seguiu a carreira de secretária bilíngüe em uma multinacional e acabou casada com um grande empresário americano de uma companhia associada. Mudaram para os Estados Unidos e tiveram dois filhos.
Esses dois meninos cresceram e viveram sempre na América, sendo que um se formou em medicina e o outro em processamento de dados. Os primos que moravam no Brasil iam visitá-los em julho, sendo o primo do segundo casamento publicitário, e as duas primas do primeiro casamento trabalhavam respectivamente com arquitetura e design de interiores.
Nessa altura a arquiteta era a única da sua geração que possuía crianças: duas meninas, que iam para Nova Iorque sempre acompanhadas pela babá Marinalva, que segundo a patroa era uma moça muito boazinha, limpinha, morena bem clarinha.
Com o tempo mais crianças se juntaram às duas meninas, aumentando a família, por parte dos tios americanos e brasileiros. Esses novos membros, ricos e bem educados, cresceram e tiveram seus filhos ricos e bem educados, que depois por sua vez tiveram seus filhos, que tiveram mais filhos, mais ricos e mais educados, perpetuando assim a estirpe do saudoso patriarca com muita riqueza e educação, pelos séculos e séculos. Amém.

O Que Importa

Não me importa o seu sotaque
O IDH da sua cidade
O quanto de melanina
Tem sua pele: a sua cor.
Não me importa no que crê
Qual a sua religião
Em qual instituição
Qual seu mártir, qual seu deus.
Não importa a sua classe
A sua renda per capta
A sua escolaridade
A sua idade, o RG.
O número do seu PIS
CNH ou CPF
O seu FGTS
Seu IR, IPTU
Não me importa o seu sexo
Com quem você faz sexo
Se é do mesmo sexo
Se faz sexo ou amor.
Não importa o seu partido
Sua visão política
Direita, esquerda ou centrista
Pra que time você torce.
Não me importa seu biotipo
Seus genes, seu psicológico
Arquétipo, estereótipo.
O seu ego, o seu nome.

Tais futilidades não me interessam
O que quero saber
É o que você pensa no instante em que percebe que está vivo.
O que quero saber
É quem você é.

O Quarto sem Janelas

Essa eu fiz na minha cabine, no navio.

Tudo dentro de mim
Todo eu dentro de mim
Só sou eu dentro de mim
Em um quarto sem janelas

O mundo fora de mim
Tempo e espaço fora de mim
O sol arde fora de mim
Fora do quarto sem janelas

O globo gira comigo
O mar balança comigo
Meu amor sonha comigo
Longe do quarto sem janelas

Pessoas dançam comigo
Crianças brincam comigo
Alguns outros vivem comigo
Há mais quartos sem janelas

A solidão invade-me
A ilusão invade-me
A confusão invade-me
Nesse quarto sem janelas

O corredor invade-me
A embarcação invade-me
O oceano invade-me
Eu no quarto sem janelas

Em mim ainda sou eu
Só comigo sou eu
Pergunto-me quem sou eu?
Eu sou um quarto sem janelas.

O Ritual do Vinho

A mão colhe o fruto.
Com os pés faz-se o mosto.
Do açúcar se alimenta o fungo
Que gera o álcool
Que enrubesce o rosto.
Os olhos se embriagam.
A terra seca outra vez.
Depois do porre, a ira,
A maldição lançada,
Por ter sido coberta a nudez.
A cortiça impede a entrada
Do ar, mensageiro do tempo.
Que oxida, forma o vinagre
Levado aos sedentos lábios
Do mártir pouco limpo.
No balanço ensaiado da taça
(antes do brinde onde o cristal canta),
As narinas o aroma julgam:
Cabe ao homem a aprovação.
Cabe a ele pagar a conta.
Como no vazio do céu retinto
Fulgura poético o círculo branco,
Ele só por ser emana poesia,
Na festa e no vício,
No trono, num banco.
Por simbolismo em sangue tornado.
Por milagre, da água surgido.
Sorvido com melindre, tragado no gargalo,
Cumpre sua sina:
Pelo homem criado, pelo homem consumido.

Prece

Obrigado Senhor por eu ainda ter fé, apesar de saber de todos os absurdos que fizeram e ainda fazem usando Seu nome.
Obrigado Senhor por eu ainda ter fé, apesar de ver Sua palavra sendo utilizada para manipular o povo e conquistar poder.
Obrigado Senhor por eu ainda ter fé, mesmo tendo ciência da quantidade de pessoas que morreram por acreditarem ou duvidarem de Ti.
Obrigado Senhor por me livrar das instituições que pregam o Seu nome.
Obrigado por me livrar das tentações que elas oferecem; dos paraísos oferecidos em troca de obediência; da dogmática certeza da salvação, que é o ópio espiritual; do regozijo cruel de julgar condenado o próximo que optou por um caminho diferente.
Agradeço-lhe por me amar mesmo quando o questiono. E mesmo quando eu busco seguir minha vida sem você. Por me receber cada vez que volto sem me censurar; por conhecer minha natureza; por ser meu porto seguro.
Agradeço-Lhe por manter meus olhos abertos para enxergar Jesus como um exemplo, conseguir driblar todas as tentativas de transformarem-no em um ídolo, um mito para ser adorado e não seguido.
Glória a Ti, por me mostrar que os conhecimentos científicos não contestam a Sua existência, mas sim demonstram Sua perfeição, Sua profundidade e Sua grandeza.
E que antagonizar Fé e Conhecimento é obra de mentes radicais e corações apaixonados.
Obrigado por me fazer perceber que, embora minha fé não seja grande, ela é forte!
Por fim, peço-Lhe que sempre nos abençoe, e permita-nos escutar o coração e aprender com a natureza, que é a lousa onde o Senhor nos transmite a lição. Amem.

Luzescrita

A cortina se abre.
Então a luz entra e inunda,
Dando forma ao que era antes escuridão
E congelando uma fração de segundos.
O artista permanece na sombra.
De onde está, ninguém poderá ver seu rosto.
Mas ele sabe que,
No momento em que abriu a cortina,
Ele mostrou sua alma.
Pois não importa a imagem que os olhos verão:
Que seja uma paisagem,
Que seja um retrato,
Que seja abstrato.
Naquele fragmento de tempo
Está a essência do que ele é.
E então ele percebe
Que a sua arte não é sua,
Ele é dela,
E é ela que o conduz dentro dele
Na sua eterna busca por si.
E percebe que, nesta confusão de pronomes,
Por mais que invente novos nomes,
Por mais que surjam novos fatos,
Sua obra será sempre
Um auto-retrato.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Eu e a Vida

Como contemplar a vida de forma holística
Estando eu inserido nela?

Vida eu te amo, e te temo. Vejo-te como o auge da complexidade do universo.

Por vezes atinjo um grau de distanciamento que me faz refletir sobre a fugacidade da vida no ser. Vejo a vida ainda como um fenômeno maravilhoso, como um processo dinâmico que para mim tem caráter divino. Entretanto percebo que a minha existência está fadada ao esquecimento. Vejo-me como um dos seis bilhões de indivíduos da espécie humana que vive sobre a superfície da Terra no mesmo intervalo de tempo, que possui uma existência extremamente curta se comparada à história da humanidade, e a história da humanidade se mostra uma breve anedota se comparada à história da evolução da vida, história essa que é extremamente curta se comparada a história geológica da Terra, que por sua vez é ínfima se comparada a história do universo. E em aproximadamente cinco bilhões de anos o sol irá se apagar, e com isso a vida tal qual a conhecemos hoje não mais existirá.
E se Einstein, Sócrates, Platão, Aristóteles, Shakespeare, Jesus, Maomé, Freud, Marx, Adam Smith, Gandhi, e todos os outros ícones da nossa história serão esquecidos, que esperança resta para um Danilo?
Tenho um apreço tão grande pela vida, que o medo de perde-la torna-se quase em obsessão.

Reticências

Todo os átomos
Todas as moléculas do meu corpo,
Meus humores e vísceras,
Todo o seu corpo,
Pele, suor e poros.
E o teto e tudo que nos cobre
Tudo o que possuímos
Que ingerimos e excretamos
Os bens que acumulamos
E os infindáveis sonhos do nosso consumo.
A água que sempre mergulha
Buscando a terra que nos atrai,
E essa terra içada refém do vento
E a flora que ao vento a semente lavra.
Toda a matéria-prima
E a moeda paga e a manufatura
Toda obra de arte e arquitetura
As velhas e novas sete maravilhas.
Os artefatos tecnológicos
Os satélites que vagam na órbita
E o planeta azul que eles fotografam
E os astros que esse astro circundam
E os combustíveis que as estrelas consomem
Tudo o que dizemos ser matéria!

Ao todo toda essa realidade é na realidade
Cinco centésimos do universo.
O resto que sobra e que é quase o todo
É massa e energia escura
Aquilo que existe e ainda não entendemos
Que define cada número atômico
Que dá corpo a cada átomo
Em que consiste aquilo que é vácuo
O tecido do corpo espaço
O motor e volante do fator tempo

O ponto onde acaba a ciência humana
E se instauram as reticências
Que caótica ou ordenadamente
Definem nossa condição e existência.

Ser Dois

Esse é o meu jeito de contar a minha história de amor. Ainda bem que a Tá me entende...

Era um ser,
Agora é dois,
Pois outro se somou
Ao um que sempre foi.
E o outro que somou
Também sempre foi um.
Acrescido do primeiro:
É dois cada um.
Mesmo cada um sendo dois,
Somando os dois dá um.
E tirando meio de um, que é dois,
Não sobra nem um.
Cada um é dois.
Que são dois não se pode dizer.
Pois cada um pode ser dois
Mas não pode ter dois ser.

Atividades

vida ativa idade
A ti aditiva
diva da dádiva
Seita
TV edita veta desvia
Dita e desdita
Avia as Vaidades
Eva vestida
Evita de dá
SIDA
Estiva tesa
Desata Vadia
Ais
sedativa seda
divida dívida
esvai seiva
Ave ávida
Vá-te data
Ide ida
Dia-dia
Seta via
Vide Vê
Visa divisa
Se esta vista vasta veda
eis atividade

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Poesias Fase 1

As poesias que seguem abaixo são pertencentes ao que eu chamo de Fase 1. São poesias feita ao longo da adolescência, normalmente em forma de canções, com o toque de rebeldia característico dessa fase. E uma coisa que não sei se é boa ou ruim é que muitas das minhas opiniões e posturas dessa época, que aparecem nas poesias, ainda fazem parte do meu modo de pensar.

O Homem Sem Rosto

Essa poesia segue um linha diferente das outras poesias dessa fase. Ao invés de canção, é uma história...

Havia um homem,
Que não tinha nome
Nem tinha rosto.
Não tinha família,
Tampouco amigos.
Não tinha vícios.
Não sabia o que era o medo,
Desconhecia o ódio,
Nunca havia sentido amor.
E caminhava.
Sem nunca chegar,
Ele não tinha um lar.
Procurava algo,
Algo que lhe desse um rosto.
Até aquele momento
Não sabia se era feliz,
Pois embora nunca houvesse chorado,
Também não se lembrava
De algum dia haver sorrido.

Nem sede, nem fome,
Sem cansaço ou dor.
O vazio era sua rotina.
Nenhum tipo de trabalho,
Nenhum tipo de hobby.
Ele não tinha fé.
Nem ideologia,
Nem filosofia.
E não tinha paz.
Andara o mundo
Mas não tinha pátria.
O que fazia era procurar.
Ele tinha pressa.

Ou ansiedade...?

Seria isso?
Sua única sensação
E não a conseguia definir!
Na verdade
Era apenas um mal estar,
Como se no meio do vazio,
Algo incomodasse.
Ficasse a formigar,
A borbulhar,
A se torcer.
De lá ele tirava forças
Para continuar a busca.
De lá...
E também de algo parecido
com um sonho, ou uma visão:

Encontrava uma criatura
Vazia como ele.
Ele ia a ela.
Ela ia a ele.
Ambos se atraíam,
Contemplavam-se,
Preenchiam-se.
Os dois sozinhos,
Os dois sem rostos.

Muitas vezes se perguntara
Se aquela criatura era Deus,
Ou se era o amor,
Ou se Deus era o amor;
Sem nunca, entretanto,
Chegar a uma conclusão.

Buscava sempre.
Às vezes em carreira,
Às vezes parado.
Variava conforme
A intensidade da sensação.
Sem seguir um método,
Sem nenhum critério.
A única regra
Era o tempo.
Ele teria fim.
E num momento de angústia
(Seria angústia, ou apenas a ansiedade extremada?)
Resolveu antecipa-lo.
Caminhou até um rio.
E pulou.
Ele não sabia nadar.

No instante do pulo, entretanto,
Teve uma surpresa:
Viu seu reflexo na água.
Uma criatura vazia,
Sem rosto.
Ele ia a ela.
Ela ia a ele.
Ambos se atraíam.
E quando se tocaram
E a água o envolveu
Imaginou por um momento
Ter alcançado seu objetivo
Ter cumprido sua sina:
Buscar, desde o princípio, o fim.

Mas enquanto rodopiava
Naquele meio turvo
Percebeu que era engano.
Que aquela visão, na verdade,
Mostrava que sua busca
Era por si mesmo.
Apenas se encontrando
Ele se preencheria.
E então quis viver.
Seria muito triste morrer
Sem saber o que era amar,
O que era sorrir,
O que era ter paz.

Mas ele não sabia nadar.
E então sofreu.
Teve ódio de si mesmo
Por não ter compreendido,
Por ter sido fraco.
Em vão se debatia
contra a força daquela massa
Que indiferente o levava.
E teve primeiro medo,
Depois desespero,
E, por fim, deixou de ter...

...E teve susto!
Estava na margem de um remanso.
Sentia dor.
Percebeu então que estava vivo
E percebeu quantas sensações sentira e sentia
E sorriu.
Havia conseguido,
Estava em paz.
Olhou ao redor.
Viu as mesmas coisas que sempre vira
Mas de modo diferente.
Não sabia em que diferiam,
Mas sabia que as amava.
Porque amava a vida
A compaixão do tempo
Amava-se.

Permaneceu em silêncio.
Pois agora tinha tudo
Mas não tinha palavras.
Ergueu-se e procurou Deus.
Mas sabia que não o veria,
E sabia o porquê.

Então começou a caminhar.
Estava feliz.
Até pensou em se mirar no espelho das águas,
Mas mudou de idéia.
Não era preciso,
Pois sabia que agora
Ele tinha um rosto.

Sexta Santa

Canção antiga essa, que imaginava numa levada parecida com a daquelas bandas de rock dos anos oitenta, tipo Uns e Outros, o Nenhum de Nós daquela época do "Astronauta de Mármore", etc.

Já nascemos submissos a Deus e ao sol
E crescemos submissos aos nossos pais
E vivemos tendo que respeitar patrões
Obedecemos às ordens de malditos ladrões
Ladrões! Roubam amigos por comissões
E nós ocultamos nossas opiniões
Nos afogamos em nossas profissões
E assim vivemos nessa podridão
Mentes vazias pregando a falsa pureza do coração.

Mas ainda há esperança
Pois não comemos carne na sexta-santa
E acomodados rezamos para tudo melhorar
E nos confessamos depois de pecar.

Mas de que adianta?
O egoísmo vem nos sufocar.
E de que adianta
Com a ganância a nos manipular?
Por que para um se dar bem
Outro tem sempre que se ferrar?
Eu já percebi
Fala-se amor mas não se sabe amar.

Mas talvez haja esperança
Pois não comemos carne na sexta-santa
E acomodados rezamos para tudo melhorar
E nos confessamos depois de pecar.

Existe sempre alguém disposto a nos explorar.
Existe sempre alguém a quem devemos respeitar.
Existe sempre alguém a quem devemos louvar.

E se vida após a morte não for mais que medo de morrer?
Por que para me salvar a vida inteira tenho que sofrer?
Por que devo esquecer que mereço um pouco de paz?

Mas eu devo ter esperança
Pois nunca comi carne na sexta-santa
E sempre rezei para Deus me ajudar
Já me confessei até sem pecar.

Verniz

Essa é uma das últimas canções que eu fiz, e que gosto bastante. Imagino ela numa pegada meio Titãs das antigas, um rock mais crú e visceral...

Falta-nos coragem para ficarmos nus

Diógenes pelado
Francisco pelado
Buda pelado
Jesus Cristo morreu nu

Padre usa batina
Pastor usa terno
Tem mulher que usa burca
Todo mundo nasce pelado

Damião era corcunda
Sebastião afeminado
Paulo era assassino
Madalena prostituta

Todos jogamos pedras
Todos jogamos pedras
Todos jogamos pedras
Tiremos esse verniz

Todos nós somos duos
Todos nós somos homens
Somos todos pombas e cobras
Quando estamos nus

Sob o riso, o medo
Sob o poder,o roubo
Sob o hábito, o vício
Sobre a pele o pêlo.

Subindo A Ladeira

Um reggae que acho bem bonitinho

Estou aqui
Sem lírios nem cogumelos
E mesmo assim
Submarino amarelo

Estou feliz
Ninguém pode proibir
Eu e meus irmãos
De cantar e sorrir

Vivendo,
Curtindo,
Aprendendo,
Subindo a ladeira
São Thomé,
Trindade,
Maresia
Praia Vermelha.

O meu elo
É luar e fogueira
Um violão
Tocando a noite inteira

Viajar
Em meio à natureza
Se integrar
Contemplar a beleza

Vivendo,
Curtindo,
Aprendendo,
Subindo a ladeira
São Thomé,
Trindade,
Bonito,
Petar e Juréia.

Tanta gente
Nos diz que sentir
O que usar
Como fazer, como agir.


Para mim
Juventude brasileira
Está confusa
Neblina na ladeira

Vivendo,
Curtindo,
Aprendendo,
Subindo a ladeira
Guaecá,
Santiago,
“Caraguá”
E Boiçucanga.

Um Consolo Poético

Essa poesia é uma daquelas que apesar de serem horríveis, tem valor sentimental. Época de adolescência. Éramos os Kamikazes (Gordon, Zóio, Flay, Carpa), a tribo sem tribo. Íamos a todas as baladas em tudo que é buraco. Tem esse nome porque escrevi para o Carpa, em uma das mil crises dele (ele teve outra outro dia)...não lembro se cheguei a entregar pra ele, acho que sim. No meio desses versos sem sentido tem um monte de histórias daquele tempo, por isso achei bacana guardar...

A dor é sua.
A chuva é minha.
A união é nossa.
A indiferença é deles
Mas pouco importa.
Por enquanto temos um ao outro
Um ombro amigo,
Uma válvula de escape,
Sei lá.
Alguém para desabafar.
E quando a vida insistir
Em nos afastar
E o destino nos levar
Para lados opostos
Ainda assim
Teremos a nós mesmos
Teremos essa força
Que nos torna diferentes.
Tão diferentes,
E só porque sabemos viver.
Porque sabemos
Quando queremos,
Chutar as etiquetas
E fazer o que temos vontade
Teremos também nossas lembranças.
Lembranças de nossas conversas
De nossas baladas
De nossos porres
De nossas fossas
Aí então
Em meio à dor e a chuva
Construiremos um santuário.
Louvaremos as poesias
E também nossos irmãos
Louvaremos o 1, 3, 9,
Ouviremos Legião.
Louvaremos o foda-se,
O caldo de mocotó
Louvaremos nossos filhos
E tudo o mais.
Louvaremos todas as pequenas coisas
Que nos fizeram tão felizes.
Um salve as moedinhas,
Um salve ao Dia das Bruxas,
Um salve aos picos cybers
Um salve ao Mister Beer
E a cada dor que sentir
E dificuldade que passar
Lembrarei-me de você
E quando você olhar pro céu
E a chuva cair
Lembrará de mim.
E então, de repente,
Como nos velhos tempos
Sem motivo aparente,
Sozinhos, iremos sorrir.

Volta às Aulas

Época do colegial...veja o lado bom, pelo menos eu transformava a vagabundagem em poesia...sempre imaginei essa canção sendo cantada naquele estilo meio funk como le gusta...voz grave, e tal.

Volta às aulas
Voltam os papos
Bate-papos
Bate-bolas
Bate-bocas
Beijam-se as bocas
Bocas úmidas
Úmido gargalo
Sinuca, truco, trago.
Só estrago
Mal trago material
Venho pela idéia
Rever o pessoal
Rever o conteúdo
Meu Deus
Será que agüento isso tudo.
Tenho até assimilado
Genótipo, peso,
Co-seno ao quadrado
Às vezes embaça
A gente padece
A hora parece que não passa
Tanta pressão
Avaliação
Medo da direção
Instruir-se, sim.
De paranóia estou fora
Dar um perdido?
Só se for agora.

S/ Exp.

Fiz quando tinha uns quinze ou dezesseis anos, época em que começei a procurar emprego...imaginava essa canção numa pegada meio soul, só que daquele jeito swingado, não sei se é isso que chama groove, enfim...

Acordo de bode
Faço barba, bigode,
Tomo rápido um toddy
E saio pra camelar

Sem grana pra condução
Sem qualificação
Nem capacitação
Profissional

E de pastinha na mão
Muitos anúncios, então
Bato nas portas em vão
Me mandam passear

Porque eu não falo ing.
Não manjo de inform.
Também não tenho exp.
O meu cur. sup. é incompl.
Parei no segundo
Ano de com. ext.

Chego cansado
Tenso, desanimado,
Um banho demorado
Pra relaxar

Mas logo o dia termina
E amanhã a rotina
Acho que é minha sina
É sempre igual:

“Muito bom dia senhor”,
“Com licença”, “Por favor”,
“Quero mostrar meu valor”,
Eu quero trabalhar!

Mas eu não falo ing.
Nem manjo de inform.
Também não tenho exp.
O meu cur. tec. é imcompl.
Parei no segundo
Ano de mecatron.

Relatos de um Hoje Futuro

Antiga...bem antiga...Acho o título muito legal, mas na verdade não gosto dessa poesia, mas postei assim mesmo, dá que alguém gosta...

Chega mais um fim de ano
De forma um tanto senil
Carros voando e et`s achando
A nossa mente tão fútil

Fútil por quê? Eu penso tanto
Tanto que tento entender
Por que tanta gente voando
Tanta gente a se esconder

Eu penso, juro que penso,
Mas não posso acompanhar
Código em barras, anticristos,
Andróides, bases lunar.

E os cristãos queimados vivos
Rezam para se salvar
E em volta das fogueiras
Jovens ficam a cantar

Larará larará larará

Não devo, mas às vezes
Eu tento recordar
Onde estão os meus amigos
Que o mundo iam mudar?

Entraram em garrafas
Pediram pra eu tampar
Pareciam tão felizes
Quando os joguei no mar

Não sei bem quem eu sou
Nem onde quero chegar
Privaram-me do saber
Não me permitem questionar

Acho que na verdade
Eu já perdi a noção
Do que é tempo espaço
O que é loucura ou razão

Reggae Avesso

é mesmo um reggae as avessas, onde em vez de falar que a maconha é uma erva natural e etc e tal, eu falo o porquê de eu optar por não usar nenhuma droga, mesmo convivendo com tanta gente que usava, naquele tempo em que havia os reggaes nas mansões, em sbc.

Eu hoje vejo a paranóia
Consumindo tantos irmãos
Que com os rostos desfigurados
Acabam por sujar suas mãos

Eu quero coisa melhor pra mim
Uma menina para amar
Eu quero ser feliz sim
Por isso eu não vou desandar

Sei que a realidade é dura
E que a vida está difícil
Mas eu quero fogo de verdade
E não fogos de artifício

Eu quero coisa melhor pra mim
E de alguma forma lutar
Não quero a vida tão pobre assim
Por isso eu não vou desandar

Eu sei que é lindo sonhar
E ver tudo tão colorido
Mas se as cores não são reais
O sonho é um riso fingido.

Eu não quero chegar ao fim
E ver que nada pude mudar
Quero fazer soar o clarim
Se um novo tempo chegar

Por isso eu não vou desandar...
Por isso eu não vou desandar...

Raque Parnasiano

foi um dia em que acabou a luz em casa...

Há que cantam anjos
Circundando a vela
Tremeluzem banjos
Em toada bela

De vento moinho
Um só souvenir
De pedra raminho
Sem cor ou florir

Cenário: Estante
De madeira morta
Com os elefantes
Tornados da porta

Em base segura
De ornada fita
Deusa da fartura
Em lótus medita

O cinzeiro anseia
A cinza cair
Mas essa candeia
Já vai se extinguir.

“Às vezes, quando não conseguimos ver o que é concreto, entendemos melhor o que é abstrato”.

Mosquitinhos

Essa canção é uma das minhas grandes frustações. Quando vi a peça "Calendário da Pedra" da Denise Stoklos, voltei pra casa com a certeza de que assim como a protagonista, eu também gostava de escrever "mosquitinhos". E uma vez que essa atriz sempre me tocou forte, resolvi fazer o que eu achei que seria uma homenagem, como costumo fazer com tudo que me encanta. Acontece que o resultado foi essa poesia. Fraca, insossa, uma ofensa àquele trabalho maravilhoso que era a peça. E o pior: empolgado pela própria peça eu enviei a poesia para o email da Denise. Só depois, ajudado pelo silêncio da ausência de resposta, entendi qual o real valor da minha obra...nenhum! Quis refazê-la, mas foi impossível, e cheguei quase mesmo a rasgá-la, ou deletá-la, enfim, destruí-la. Mas então a própria lembrança da protagonista da peça me fez mudar de idéia. Pois embora não tenha força, por mais que seja insossa e fraca, que seja, enfim: ruim! Foi um momento onde dediquei o melhor de mim, foi um êxtase, algo que só bem depois eu entenderia como eudaimonia. Se o resultado foi apenas isso, então é isso o que tenho para mostrar ao mundo! Sou um poeta sem estrela, sem brilho. Nesse momento entendi minha sina. E assim continuei escrevendo, pois mesmo que não possa fazer brilhar o mundo com minhas luzes, espalharei por ele meus mosquitinhos.

Não tema ser piegas
Ao dizer eu te amo,
Se você realmente amar.
Não deixe pra depois
Um gesto, um carinho,
Uma palavra, um olhar.

Nunca perca tempo,
Pois não sabemos quanto tempo
Um momento irá durar.
Não crie contratempos,
Pois nem sempre haverá tempo
Para os consertar.

Talvez o tempo que um leva para admitir seu erro
Seja maior que o tempo que o outro espera para perdoar.

E não espere mais
Para fazer o que gosta,
Não espere para ser feliz.
Não é perda de tempo
Parar por um momento
Pra ouvir o que o coração diz.

Dome o velho tempo.
Crie então seu novo tempo.
Trace seu destino a giz.
Não deixe seu momento
Se perder pelo tempo,
Faça-o ter raiz.

Talvez o tempo que você acredita que pode esperar
Seja maior que o tempo que a vida tem para lhe dar.

Meus Amigos Nunca Choram

Uma de minhas primeiras canções, bem adolescente. Na verdade esses "amigos" seriam os demais adolescentes, que ao contrário de mim não pareciam se emocionar com um livro, um filme, uma peça de teatro...sei que atualmente pode parecer algo meio na linha "emo"...rs...mas imaginava essa canção sendo cantada na pegada do Nirvana, bem pesada, apesar de não ser fã dessa banda mesmo na época...

Meus amigos nunca sentem
A falta de ninguém
Se companhia é muito bom
Solidão é bom também

E eles não respeitam
Nenhuma autoridade
Fazem o que querem
São servos da vontade

Meus amigos nunca choram
Nem ao sentir dor
Nem por algo belo
Por tristeza ou pavor

Não temem a morte
Nem a escuridão
Não temem o ódio
E nem a paixão

Meus amigos nunca choram
Nem por um momento
Eles nunca choram
Não demonstram sofrimento

Meus amigos nunca choram
Por falta de carinho
Eles nunca choram
Quando se sentem sozinhos

Meus amigos nunca choram
Nunca, nunca choram.
Meus amigos nunca choram
Ou dizem que não choram

Meus amigos nunca choram
Eles nunca choram
Mas será que não choram?
Será que são tão tolos assim?

Massa e Fumaça

Fiz essa poesia com mais ou menos 11 anos. Foi minha primeira poesia, ou pelo menos foi a partir dela que eu descobri que gostava de escrever poesias. Mas ela tem um sério problema: foi sendo remendada durante o tempo, porque a mudava de acordo com minhas próprias mudanças. Não tenho mais o original dela, que não se parece em quase nada com o formato atual. Hoje ela representa pra mim a minha própria inocência violentada...mas enfim, serviu de lição, por isso as demais poesias dessa que eu chamo de fase 1 foram, na medida do possível, preservadas, com suas virtudes e defeitos...

A massa condena a fumaça
Mas sem massa
Não há fumaça
A fumaça nasce como obra da massa
A fumaça, o pó, a pedra, a bala,
São culturas da massa
Sem bala, pedra, pó, fumaça,
A massa amassa
Seus semelhantes
Por bala, pó, pedra, fumaça,
A massa mata
Seus semelhantes
A fumaça embaça a visão da massa?
Ou a massa é cega por fumaça?
Maldita a fumaça?
Sim!
Maldita seja a massa.

Mais Uma Canção de Amor

na verdade é uma brincadeira com a minha incapacidade, nessa época, de falar algo sobre o amor...

Eu sei que você não presta
Está longe de ser um bom partido
Mas quando te vejo por perto
Nada mais faz nenhum sentido

Pensar em você me dá náusea
Qualquer valeta vira abismo
E o pior é que vivo pensando
Será que isso é masoquismo?

Dos defeitos que eu conheço
Você é uma salada mista
Mas se enlouqueço ao seu lado
Fico pior se te perco de vista.

Vejo bondade em sua áurea
E isso me dá uma agonia
Pois não sei se é mediunidade
Ou se é esquizofrenia

E a Vida Segue Constante Como Sempre

Parceria com Wilson Rildo...acho essa canção muito forte, me inquieta, porque parece que esse jogo de tempo realmente prevê nossa trajetória, como se o Gordon e o Rildo adolescentes me olhassem com uma certa desilusão...e eu concordo com eles...

Nosso desejo se perdeu em tantos medos
Nosso passado continua no presente
O pesadelo continua nesse sonho
E a vida segue constante como sempre

E a vida segue constante como sempre {3x}
E a vida segue...

O nosso sonho era passar uma mensagem
Construtiva equação de rebeldia
Que esbarrou no poder da realidade
Nos obrigando a olhar de frente a vida

Nos obrigando a olhar de frente a vida {3x}
Nos obrigando...

A juventude passa num estalar de dedos
E nos sobra a saudade de um futuro
Um futuro almejado no passado
E que se torna cada vez mais obscuro

E que se torna cada vez mais obscuro {3x}
E que se torna...

Não vou dizer que não estou fazendo nada
Nem vou jurar que assim ainda fico
O que eu quero é beber da eterna fonte
Matar a sede existente em meu espírito

Matar a sede existente em meu espírito {3x}
Matar a sede...

Não Penso em Versos Rimados

Não penso em versos rimados.
Não penso estrofes de amor
Nem com concordância verbal.

Talvez diga sujeitos
Compostos, indeterminados,
Talvez diga predicados,
Talvez só diga besteira.

Meu cérebro não tem margens.
Minhas idéias não rimam com nada.
Meus sentimentos, estrofes que se enlaçam.

Quando forço as frases
Limito minhas palavras,
Tudo o que sinto se perde.
Ou se torna fútil, sem graça.

A vida rima sem pretensão.
Palavras rimam com gestos,
Pessoas rimam entre si.

Vou escrever poesias
Como a vida escreve a sua própria,
Fazer do caos e do acaso
Matéria de inspiração.

Rimar lágrima e alegria,
Miséria e realidade,
E também vontade com luta.

Em tudo há poesia.
Nós mesmos somos sonetos
Onde se muda o recheio
Mas é o mesmo fim e começo.

No fim tudo se encaixa,
Cores e formas se moldam,
Dando beleza ao enredo.

Curingas nesse contexto,
Objetos, ora sujeitos,
Completamos, praticamos,
Ou recebemos a ação.

E a Palavra Esvai-se

Folha em branco.
Linhas intactas.
Nenhuma frase escrita.
Vazio o coração.
A mente a buscar
No obscuro arquivo
O motivo da inquietação.
As mãos intranqüilas,
Os olhos no nada,
Os lábios cerrados
Sem verbo, o pão.
A testa suada,
A noite calada.
Fugaz é a inspiração.

* * *

Tempo e espaço se foram
O vazio se firmou
E o que seria dito
Foi só esquecido
E em meio ao pó da memória
Com linhas intactas
Uma folha vaga ao vento
Com sua textura
Amarelada
Sem intento.

Deprê

Hoje estou meio “deprê”
Não sei direito o por quê
Sei que todos têm problemas
Bem maiores que os meus
Sei que tenho mais
Do que preciso pra viver
E tenho bem mais
Do que julgo merecer
Também sei que não há motivo
Mesmo assim quero gritar
Dentro estou revirado
E sem vontade de arrumar
Deve ser essa rotina
Ouvir rádio, ver tv
Às vezes quero chorar
Às vezes quero me esconder

Não precisam nem dizer
Que sempre temos de lutar
Que isto não é saudável
E não é certo se entregar
Só quero curtir um pouco
Ninguém pode reclamar
Não é fossa ou fim de poço
Só quero desabafar
Não quero que me escutem
Nem que venham consolar
Só quero ficar sozinho
Mim comigo pra pensar

Hoje estou meio “deprê”
Não sei direito o por quê
Tenho vontade de dormir
E só acordar quando esquecer
Talvez sejam esses livros
São histórias deprimentes
Ou o dia nebuloso
Embaça tudo à minha frente
Sei que estou meio “deprê”
Nem me interessa o por quê
Daqui a pouco isso passa
E então volto a viver.

Depois de Gandhi Ninguém Nunca Mais Pensou

eu imagino essa canção em um ritmo de ska.

Eu acho que...
Segundo o...
Defendo a...

Todos têm sempre algo importante pra dizer
Alguma história interessante pra contar
Ponto de vista pra qualquer situação
Uma anedota ou mera informação

Todos defendem com unhas e dentes
Suas idéias e opiniões
Que na verdade pouco tem de suas
Não são idéias, são repetições.

Depois de Gandhi nunca mais ninguém pensou
Depois de Freud nunca mais ninguém pensou
Depois de Marx nunca mais ninguém pensou
Depois de Darwin nunca mais ninguém pensou

Todo mundo adora fazer citações
De poemas ou de trechos de canções
Frases profundas ditas por algum ator
Algum profeta, poeta ou escritor.

Já não sabemos se o que a gente sente
Vem dos ouvidos ou do coração
O que nos sobra na área da memória
Nos falta na área da imaginação

Depois de Platão ninguém nunca mais pensou
Depois de Tales ninguém nunca mais pensou
De Epicuro ninguém nunca mais pensou
De Confúcio ninguém nunca mais pensou

Depois de Bob Marley ninguém mais pensou
Depois da Tropicália ninguém mais pensou
Depois de Raul Seixas ninguém mais pensou
Depois de Beethoven ninguém mais pensou

Declaração

Sei que conjeturam
Mas no fundo não importa
Quem tu és,
De onde vens,
Pra onde foste,
Ou onde moras.
Interessa-me
A tua palavra
O teu exemplo como homem
A esperança em teus discursos
Em teus atos
Na tua morte

Se Maria não for virgem
E José for o teu pai
Nada perde a divindade
A verdade é muito mais
Se o céu não escureceu
Ou mesmo sem vencer a morte,
Transcendeu-se tempo e espaço,
Tantos falam o teu nome.

E que ele sirva sempre
E apenas de motivação.
Nunca como escudo,
Escora, fuga ou opressão.
Afinal de que adianta
Tal exemplo de coragem
Ser posto tão distante
De quem segue os seus passos.

Bacco

Um adolescente com aspirações poéticas que resolve homenagear o seu cachorro. Essa poesia não tem valor literário, mas tem valor sentimental. O Bacco foi um cachorro bem melhor do que essa poesia...

Bacco, vira-lata mulato
Que acaricio e bato,
Que deixo preso
Tantas vezes desprezo

Expressivo por completo
Um só olhar transmite afeto.
Súplica e dor
Excitação e amor.

A calda balanças
O portão alcanças
E com o lar às costas
Vês o mundo e suas portas

Quando a noite chega
Regressas e te aconchegas
Em tua velha manta laranja
Espreguiças e esbanjas

Impossível compreender
Esse jeito de ser
Com futilidades enraiveces
Em calamidades nem te mexes

Tuas armas são as prezas
Nenhuma palavra expressas
Tua voz é o ladrar
Teu amor é guardar.

És livre assim
És sábio sim
Com o instinto a te guiar
Não necessitas pensar.

Pra você melhor seria fazer um rap.

Cambão

Parceria minha com Wilson Rildo, na verdade acho que mais dele do que minha.


Cambão
Com a força que tu tens
E o poder de tuas mãos
És tratado como um animal
Por esse povo que se diz racional

Você
Que é explorado desde que nasceu
E que por toda a sua vida correu
Hoje cansado vê que o tempo passou
E o que buscava ainda não encontrou

E não
Não buscavas nenhum paraíso
Também não desejavas ser rico
Querias só viver com dignidade
Sonhando alto talvez felicidade

Viajou
Com toda a sua família
Dentro de um ônibus por três dias
E mesmo vendo seu filho chorar
Você achou que a sorte ia mudar

Chegaste
À grande Canaã: São Paulo
Para ganhar respeito com trabalho
E esquecer todo o sofrimento
Toda dor e todo desalento

Porém
Seu sonho virou pesadelo
Você reviu aqui a fome e o medo
E agora ainda é discriminado
Por ser nativo de outro estado

No peito
Um coração endurecido
Se esforça pra mantê-lo vivo
E só se conforta quando você ora
De fronte a imagem de Nossa Senhora

sábado, 29 de agosto de 2009

Ciclo

pouco mais que verbos no infinitivo...


Chegar
Forçar
Entrar
Deixar fluir
Di-vi-dir
Dividir
Dividir
Formar
Nutrir
Ver a luz chegar
Sofrer
Chorar
Respirar
Ouvir
Cheirar
Sentir
Tatear
Enxergar
Andar
Falar
Brincar, brincar,
Crescer, crescer,
Refletir
Não entender
Revoltar
Esgoelar
Tentar fugir
Desistir
Estudar, estudar,
Cantar e rir
Divertir
Beber, fumar,
Tentar largar
Trabalhar, trabalhar,
Namorar
Casar,
Amar!
Amar?
Procriar
Entregar
Esquecer
Emudecer
Enganar
Trabalhar, trabalhar,
Divorciar
Tentar voltar
Aposentar
Adoecer
Medicar
Deprimir
Acostumar
Tentar levar
Piorar
Internar
Melhorar
Recair
Não resistir
Ver a luz cessar
Parar
Dormir
Perecer
...e tudo isso pra quê?...

Causa-Efeito

esse rock é na verdade um mero jogo de conceitos e palavras, mas a própria sociedade na maioria das vezes não é muito mais do que isso.


Quando tudo for de todos não haverá roubo
Quando não houver posse não haverá perda
Quando não houver limite não haverá excesso
Quando não houver ódio não haverá ira
Quando não houver cobiça não haverá inveja
Quando não houver inveja não haverá guerra
Quando não houver juiz não haverá pecado

E quando houver amor...
Ah...Quando houver amor...

E com respeito talvez não haja preconceito
E sem preconceito haverá harmonia
Sem paternalismo, talvez cidadania.
Sem corrupção, talvez democracia.
E sem fome talvez se fale em filosofia

E quando houver amor...
Ah...Quando houver amor...

Quando não houver...Haverá...
Quando não houver...Haverá...
Quando não houver...
Quando não houver...
Quando não haverá?

Quando não houver...Haverá...
Quando não houver...Haverá...
Quando não houver...
Quando não houver...
Então haverá paz.
Verás.

Aos Antigos Hefestianos

Recentemente fiquei feliz ao saber que de fato essa canção não é em memória...


As portas da percepção estavam trancadas
A estrada pra volta estava escura
Seus olhos vagavam buscando o nada
Não havia amigos para pedir ajuda
Quando você se perdeu
As amizades sumiram
Só então percebeu
Que tudo era mentira
Todos seus companheiros
De praça, de esquina,
Mas te abandonaram
Na psicodelia.
E você
Ainda está aí
Vendo tudo torto
Leso, talvez morto.
Sem ter nenhum porto
Para atracar.
Mas eu
Ainda estou aqui.
E estou disposto
A assumir o meu posto
Mas não darei meu rosto
Pra ninguém socar.
Vocês tombaram na linha de frente
Mas eu sobrevivi na retaguarda.
Vocês quiseram derrubar o muro,
Eu acho melhor tentar uma escalada.
Quando estiver no topo,
Eles terão de me ouvir.
Passarei a mensagem
Nem que morra a seguir
Sustenta-me a visão
Visão essa é aquela
Em que o drama e a comédia
Estão pintados pra guerra.
Guerra sem rios de sangue
Guerra sem mar de feridos
Revolução cultural
Feita com arte, sem tiros
Pra que se afastem todos
Do sistema falido
Onde o Homem se mata
Por não saber seu nicho.
Paz e amor sempre.
Muita coragem agora.
Será que esta canção
É em memória?

Blues da Bunda

Bumbum é bom.
Ta bom, já sei.
Mas beijo, boca,
Abraço, umbigo,
Eu digo:
É muito bom também

Bumbo, zabumba,
Bumbo, zabumba,
Bunda, bumbum,
Nádega,
Atabaque, bongô.

A bunda rebola ao som da zabumba
E te faz babar.
A bunda balança ao som do bumbo
Quanta baba.

A bunda se tornou o centro das atenções.
Já venceu a mente,
O ventre, os olhos,
Os colhões.

A cabeça serve só pra por as mãos
Enquanto a bunda desce
Requebrando
Até o chão.

A bunda rebola ao som da zabumba
E te faz babar.
A bunda balança ao som do bumbo
Quanta baba.

A bunda é a grande paixão nacional
É capa de revista
É vista em comercial

Bunda de banda abunda e aponta para o Sol.
O Brasil é o país da bunda
E do futebol.



Estamos no país do samba.
A bunda é bamba em rebolar.
Mas tem um papo que é fato
E nenhum “bundólotra” pode negar

É sempre o cérebro que vai mandar...

...o impulso nervoso
Pelos nervos do corpo,
Que é o que faz balançar
A bunda

Este é o blues da bunda.
Ele é um blues: é um lamento.
E nisso tudo o que eu mais lamento
É nada poder mudar!

A Flor Azul

Fiz essa canção depois da morte do Renato Russo (acho que foi 1996). Eu não conhecia muito legião naquela época, mas com aquela tradicional mídia que acontece depois da morte de alguém, começei a ouvir mais, e acabei escrevendo essa canção, que imaginava sendo cantada pela voz potente dele. Apesar de fazer parte das minhas composições de adolescente, eu gosto bastante dela, e recentemente eu a reduzi a esse formato que será o final, para manter as características da minha fase 1.


Uma flor azul
Vinda do céu
Colhida da nuvem
Onde um anjo a plantou

Esta flor azul
Vinda do céu
Veio pra nos mostrar
Que há algo acima de nós

Acima de nossos conhecimentos
Algo que envolve nossos pensamentos
Infelizmente é uma flor sem sementes
Única chance de nos redimirmos

Não é uma flor para ser estudada
Nem explicada, nem entendida,
Basta ser sentida por nossos corações
E nos livrar de nós mesmos
De nossos erros
Que se despregaram da cruz

E quem sentir o amor
Que emana de cada pétala
Terá a chance de sentir
O sabor de um arco-íris
E existir livre de todos os medos
Sereno, belo e leve
E sede deixar de ter
De ambição ou poder
Para apenas ser luz e cor.

Cavaleiros de Pedra

Prólogo: - Esta é uma canção feita para brasileiros.Esta é uma canção feita por brasileiros.Brasileiros indignados por verem seus carrascos, os mesmos que dizimaram os índios e escravizaram os negros, aqueles que afundaram a nossa história num mar de sangue e corrupção do qual ainda não conseguimos emergir, serem homenageados em nomes de praças, de escolas, de ruas, em esculturas...de pedra.

Cavaleiros de pedra
Predadores
Com seus cavalos-tratores
Constroem torres
Derrubam flores
Império que causa horrores
Pregam o mal
Do anjo negro
E do demônio vermelho
Só vêem o bem
Dentro do espelho
E no sagrado dinheiro

Cavaleiros de pedra
Conquistadores
Pés brasas, mãos foices.
Seu império cinza
Transforma em cinza
Todos os nossos valores
No outdoor
Evolução
Embaixo o povo gemendo ao chão.
No alto ri
O presidente
Embaixo o povo sem dentes

Cavaleiros de pedra
Destruidores
Matam para seus senhores.
Matam minha gente
E então contentes
Recebem muitos louvores.
Eles são pedras
Só pensam pedras
Sentem pedras e agem pedras.
Praças de pedras
Bustos em pedras
De algumas ilustres pedras.

Cavaleiros de pedra...

Hipnose

Junto com "Cavaleiros de Pedra", foi a primeira canção que tive coragem de tirar da gaveta. Eu e o Rildo chegamos a musicá-la, mas depois o tempo passou e ela voltou para a gaveta assim como todas as outras...sabem como é "A Vida Segue Constante como Sempre"...

Hipnose...Estou ficando cansado
Hipnose... Meus olhos estão pesados
Hipnose...Um...Dois...Três...Um estalo
Hipnose...Num estalo eu liguei.

Hipnose...Ah! O mundo é tão bom
Hipnose... Como uma grande nação
Hipnose...Viva a evolução
Hipnose...Somos todos irmãos

Hipnose...É tão fácil entender
Hipnose...Já vem pronto para beber
Hipnose...Porque sexo seguro...
Hipnose...Porque hálito puro...
Hipnose...Pra quem gosta de aventuras...
Hipnose... Maciez e fofura
Hipnose...Sucesso garantido
Hipnose... Não estraga o tecido

Hipnose...Você faz isso faz than
Hipnose...Ou faz aquilo faz thum
Hipnose...Be bop a lulla bep bum!

Eu sou...Eu vou...Oh...Oh...Oh...Oh...

Hipnose...Porque drogas nem morto...
Hipnose...Estabilidade e conforto...
Hipnose...Um prazer mais intenso
Hipnose...Ah! É isso que eu penso
Hipnose... É o melhor pro meu cão
Hipnose...E não estraga minhas mãos
Hipnose...Faz comida a vapor
Hipnose...Tempera e da cor

Hipnose...Que corta tudo
Hipnose...Só que às vezes não corta
Hipnose... Mas o que é que importa

Eu sou...Eu vou...Sou...Vou...Oh...Oh...

Hipnose...Porque você é inteligente...
Hipnose...Porque não estraga o dente...
Hipnose...Porque você é bonito...
Hipnose... Ah! Por isso ou aquilo.

Hipnose...Estou prestando atenção
Hipnose...Faz bem para o coração
Hipnose...Protege do sol
Hipnose... Não contém colesterol
Hipnose...Estou atualizado
Hipnose... Isso me deixa animado
Hipnose...Um...Dois...Três...Outro estalo
Hipnose... Desliga...Estalo...Acordei.
Hipnose...

Literatura

Canção com estrutura simples que confessa essa minha paixão. Nos versos citações de algumas das personagens e histórias que mais me marcaram.

Conto, romance, fábula ou novela.
Verso ou prosa. Toda forma é bela.
Todas transmitem algum sentimento.
Nos fazem pensar ao menos um momento.

Em todas as nossas atitudes
Enquanto humanos, enquanto mortais.
Cada personagem uma lição de vida.

No fim Winston amou o Grande Irmão.
O homem é Gregor após a mutação.
O Selvagem mostra a importância da dor.
Mas nem toda estória termina em horror,

Pois Dorothy voltou pra casa,
O Espantalho aprendeu a pensar
E o Homem-de-Lata hoje tem coração.

Iracema, anagrama da invasão.
Viramundo, fantoche da situação.
Baleia, alvejada devido à mazela.
E tantas outras igualmente belas.

O Pequeno Príncipe é puro
A raposa, a rosa, a cobra, os baobás,
Com inocência ele transmite a lição

Macondo, seu tempo e sua solidão.
Brutus e Iago, ícones da traição.
No mal branco aflora o mal da sociedade,
A lucidez, veste de branco a cidade.

Narizinho e Emília,
Pedrinho, Visconde e tantos outros mais.
Bolinhos-de-chuva, serões e sacis.

Toda história é igual à vida,
Ora vitória, ora batalha perdida.
E vagando em meio a bandido e mocinho
Cada um escolhe seu próprio caminho.


O passado salvo em arquivos
O presente está estampado em manchetes
O futuro surge da literatura.
A poesia que segue abaixo, "A Canção dos Sonhos", eu fiz já há muitos anos, uma singela homenagem ao filme Yume, ou Sonhos, do Akira Kurosawa...um dos filmes mais belos que já vi.

A Canção dos Sonhos

Sonhos são sentimentos
Psíquicas parábolas
Pálpebras tão trêmulas
Sonhos são surreais

Estradas de tinta em tela
Um trago, um gole de Van Gogh.
Mesmo à morte os soldados
Vão em forma militar

E o cão que late lança culpa à patente.

Nos demônios disformes
Chifres podres de poder
Das entranhas altos brados
Pois estranham tanta dor.

Quem diz que a neve é quente
Quer te nevar mais e além
O instinto impele o povo
A pular pra Poseidon.

E o homem sem armas encara a morte iminente.

Dança, pra criança,
O pomar preste a partir
O choro rola ao rosto
Porque pôde apreciar.

Após boa e bela vida
Faz-se festa à mão da foice
Quem contempla o proibido
Paga o preço com o punhal.

E o menino caminha até o fim do arco-íris.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Eudaimonia

Durante o semestre de ética (eca / 2009), percebi que vários filósofos. com pensamentos completamente divergentes, como Aristoteles, Epicuro e até Nietzche, tinham algo em comum: acreditavam que devíamos valorizar ao máximo o momento presente. Por isso fiz uma poesia chamada "Eudaimonia", juntando a visão desses tres caras sobre esse assunto. É uma poesia em forma de canção, com palavras e rimas bem simples. Mas no meio dessa brincaceira aparece o eterno retorno, o carpe diem (em um trocadilho propositadamente inexato), e a própria eudaimonia, que é para Aristóteles o momento onde o indivíduo está em harmonia com o cosmos, fazendo exatamente o que ele deveria fazer, como uma peça de engrenagem exercendo sua função exata. Na eudaimonia, o sentido e o prazer da ação é a própria ação.

Quero viver
A eudaimonia
Com grande estilo
Carpir o dia
Em paz com o cosmo
Em harmonia
Felicidade
Não se adia

Colher os frutos
Da amizade
Ser comedido
Ter liberdade
Viver a vida
Com qualidade
Mil Sensações
Tranqüilidade.


Quero viver
A eudaimonia
Com grande estilo
Carpir o dia
Meu canto não
tem serventia
Mas ao cantar
Sinto alegria

Sou uma gota
De Pensamento
Num maremoto
De sentimento
Querer eterno
Cada momento
Total potência
Sem sofrimento


Em paz com o cosmo
Em harmonia
Felicidade
Não se adia
Meu canto não
tem serventia
Mas ao cantar
Sinto alegria
Quero viver
A eudaimonia
Com grande estilo
Carpir o dia