sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Olhares

Diferentes olhares
Com dizeres mil
De um ou outro modo
Todos incomodam
Todos me afetam
Ser observado é ser consumido
Invadido, interpretado e julgado
É estar à mercê do próximo
Ser ignorado é inexistir
É carência, solidão.

Queremos ser vistos
Como nos projetamos,
Com nossas maiores virtudes
Nossos melhores atributos.
Queremos ser admirados,
Que vejam em nós aquilo que desejamos ser.

* * *

Busco nas retinas que me vêem
O reflexo do que para elas sou.
Para as mais distraídas,
As que apenas olham,
Sou o personagem que faz rir
Pelo tipo, pelo texto.
O meu público eles, eu o show.

Outras mais perspicazes olham-me nos olhos
Visão recíproca
Como por uma vitrine:
Espelho e vidro a um tempo,
Vemos a nós e ao outro simultaneamente
Essas também se incomodam.
Vêem meu olhar crítico
E vislumbram essa sombra existente sob meus olhos
Que a primeira vista pode parecer tristeza.
Esses costumam me olhar sempre a fundo
E com alguma reserva

E há as que me observam
As que têm curiosidade e paciência
Que driblam a personagem
Se aventuram na névoa
E buscam algo mais real.
Gosto particularmente dessas, pois me permitem chegar até aonde estou.
Pois é lá atrás da personagem,
Em meio à sombra
Que me projeto como desejo ser.

Mas poucos chegam até aí
Sei que não é fácil o acesso,
E mesmo os que lá vão,
E observam o que em mim é belo,
Cedo ou tarde cedem (contra minha vontade)
À forte influência da minha grossa couraça
O meu primeiro personagem.

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